São muitos os sentidos da escola elaborados pelos jovens alunos a partir de suas experiências em diferentes espaços e relações sociais. A motivação para estudar e o modo de ser na escola depende muito das experiências, dos interesses e das identidades que eles constroem na vida, a partir da realidade vivida e das interações com outras pessoas e instituições. Isso implica compreender que os jovens são ativos e produzem uma maneira própria de ver e valorizar a escola a partir da interação com outros sujeitos em diferentes contextos sociais. Por exemplo, a escola é muito diferente para jovens de classe média, filhos de pais escolarizados. Para eles, uma longa escolarização é algo esperado e na qual podem “apostar suas fichas”. Para jovens das camadas populares, a experiência dos pais e de outros amigos de bairro nem sempre acenam para um futuro promissor a partir da escolarização. Mas a inserção em espaços coletivos ou outros agrupamentos juvenis – grupos de jovens da igreja, grupos culturais, projetos sociais – podem contribuir para um maior engajamento escolar. Ou mesmo uma experiência individual no trabalho ou na vida pessoal – um relacionamento afetivo, uma amizade, o contato com um parente – pode fazer a diferença na relação com a escola.
Você já parou para pensar que a escola pública deveria ser um suporte a mais na vida dos jovens alunos? A escola tem um lugar especial como uma instituição onde os jovens alunos podem refletir sobre suas escolhas, seus valores e expectativas na vida. Ela pode ser uma referência para eles, um suporte com o qual podem contar para se orientarem na construção de suas trajetórias de vida.
OBSERVANDO FORMAS E TEXTURAS (Excercício de observação)
“Na escola cruzam-se, durante anos, milhares de jovens em busca de um sentido para a vida. Em alguns casos, a escola reforça os sentidos já iniciados nos contextos familiares, noutros poderá ter um efeito destrutivo, noutros ainda possibilitará aos jovens construir novos sentidos. É, em grande medida, na escola que se começam a tecer e a ganhar forma os sentidos da vida, à medida que se projectam e ensaiam não só carreiras e competências, mas também posições e disposições. As identidades são em parte isso mesmo: sentidos de vida. Alavancas do dinamismo nas sociedades contemporâneas, as trajectórias, quer de mobilidade social, quer de mudança cultural, têm a escola como um dos palcos principais. A escola constitui um contexto fundamental na estruturação das identidades juvenis, isto é, na definição das posições, disposições e projetos dos jovens.” (Trecho extraído do livro Os Sentidos da Escola de Pedro Abrantes). Qual lugar a escola ocupa na vida dos jovens de sua escola? Você consegue perceber diferentes sentidos da escola entre eles? | |||
Para alguns jovens alunos, a escola representa uma obrigação que os pais ou a sociedade impõem. Para outros, estudar está diretamente relacionado à sua inserção no mercado de trabalho. Assim, traçam planos para o futuro profissional e esperam que a escola contribua para a sua mobilidade social. Outros valorizam a escola do ponto de vista dos aprendizados que ela proporciona para a vida. Para muitos, o valor da escola está no fato de ser um lugar em que encontram os amigos, fazem amizades e se relacionam.
Isso não quer dizer que a relação com a escola seja apenas uma questão de desejo individual. Ela está intimamente ligada às inserções socioculturais de cada um. Por exemplo, como dito anteriormente, a sociabilidade também é muito importante na condição juvenil. Dentro ou fora da escola, os jovens fazem amizades, circulam em grupos pela cidade, namoram e “ficam”, frequentam shoppings e cinema, visitam as casas uns dos outros etc. Hoje, com a internet, ampliam-se as possibilidades que os jovens têm de manter contatos, fazer amigos e participar de grupos virtuais.
A sociabilidade é uma dimensão central na vida juvenil que a escola não pode esquecer. Nas interações com os amigos, os jovens “trocam ideias”, produzem valores, hierarquizam relações e recriam os tempos e espaços escolares. Nessas interações, os jovens elegem os “amigos do peito”, circulam entre turmas e “galeras”, sem um tempo pré-definido, no lazer ou no uso do tempo livre. Na escola, ela está presente também nas brechas da rotina escolar, em que os jovens criam e recriam os tempos e espaços expressando aspectos das culturas juvenis (Dayrell, 2007).
Longe do que muitas vezes parece, a sociabilidade juvenil não é um problema para a escola. As interações coletivas proporcionadas pelas práticas de sociabilidade apresentam potencialidades que podem ser incentivadas na escola. Atividades interativas, estímulo ao diálogo, à organização autônoma e à produção coletiva podem fazer parte do cotidiano escolar. Não se pode pensar que ser jovem e ser estudante são incompatíveis. Não existe processo educativo sem sujeitos concretos, com suas práticas, experiências, valores e saberes. A tarefa da escola é construir um vínculo entre a identidade juvenil e a experiência de ser aluno.
A escola é lugar de aprender. Então é importante compreender como os jovens aprendem. No módulo 4, vamos discutir isso com mais calma, mas aqui nos interessa apenas notar que os jovens demandam da escola conhecimentos que lhes sejam importantes para a vida. As posturas, atitudes e críticas expressas à escola denunciam, em muitos casos, a falta de sentido dos currículos e métodos de ensino. Na pesquisa já citada, realizada no estado do Pará, os jovens demandavam uma escola que lhes ensinasse vários conteúdos ligados à formação profissional, à preparação para concursos, ao ingresso no ensino superior etc.
Mas isso não quer dizer que a escola deva se limitar a esse papel instrumental. Como podemos ver no depoimento abaixo de um jovem, demanda-se uma escola que faça sentido para a vida em geral, que permita compreender a realidade e conectar o que se aprende na escola com o seu cotidiano.
“Nós vemos em propagandas na TV a frase: “Acabou a decoreba! O que vale é o que nós aprendemos de fato.” Mas será que os alunos sabem o que é esse aprendizado de fato? Será que os professores sabem passar esse aprendizado? Eu creio que essa maneira de aprendizado deva ser levada pra nossa realidade do cotidiano. O aluno deve olhar pela janela e ver o que ele aprendeu na escola. Saber por que ele está aprendendo aquilo.” (Grupo de Discussão 8)