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Os jovens, a escola e alguns questionamentos

O vídeo “Juventude Nota 10” é uma produção do Canal Futura, que, além de debater as imagens que contemporaneamente construímos sobre jovens, traz reflexões de especialistas acerca das relações do jovem com a escola.


(Clique aqui para ver no Portal EMdiálogo)

As relações dos jovens com a escola são complexas, pois vão além do horizonte cognitivo ou normativo que preocupa boa parte dos professores. Na ótica dos jovens, entram em jogo suas esperanças e frustrações, suas relações e construção de identidade. Eles têm grandes expectativas quanto ao impacto da escolarização nos planos futuros, muitas vezes, na forma de sonhos e projetos pouco elaborados. Ao mesmo tempo, o contexto social e familiar impõe uma série de limites a partir dos quais se configuram suas experiências escolares. O presente, com suas incertezas e limitações, nem sempre está sintonizado com as imagens que idealizam para si no futuro. O depoimento de um jovem para uma pesquisa realizada com estudantes do Ensino Médio do Pará em 2010 nos dá a dimensão disso:

“Desde o inicio, quando a gente começa se desenvolvendo como homem, como moça, a dúvida vem batendo e vem mudando conforme a gente vai vivendo. Quando a gente tem o primeiro filho homem, a gente fica ouvindo o pai da gente falar: “Ou vai ser jogador de futebol ou do exército”. Então, era esse o meu sonho! Primeiro o exército. Foi mudando, porque com 19 anos eu mudei de cidade. Então, a gente se apresentando em outra cidade, a prioridade maior é pra aquelas pessoas daquela cidade. Eu fui morar no Amapá. Então, lá encerrou o meu primeiro sonho. Ai eu comecei a frequentar a igreja e o meu sonho daí em diante era ser pastor. Mas aí pareceu uma mulher na minha vida e me tirou do caminho. Mais um sonho que se foi (...). Depois que voltei a estudar aqui, o professor de geografia me fez gostar de geografia (...). Isso me chamou atenção e me levou a ter essa ascendência de me formar pra geografia, de terminar esse terceiro ano, de prestar o vestibular ou fazer alguma coisa mais desenvolvida! Esse é o meu outro sonho! A gente conforme vai andando, vai aprendendo e tirando aquela dúvida. A gente planeja uma coisa, mas não tem condição de ser aquilo.” (Homem, 23 anos).

Essas questões serão discutidas de maneira mais aprofundada no módulo “Juventude e Projetos de Futuro”.  Interessa aqui lembrar que a trajetória escolar tem um importante papel no futuro dos jovens e assume diferentes significados dependendo do momento vivido. Mas o contexto escolar não ajuda muito! Os jovens, quando falam da escola, em geral, fazem muitas críticas. Mesmo que de forma pouco elaborada, eles revelam um olhar aguçado sobre os problemas da escola pública. A falta de investimentos, as condições de trabalho dos professores, o modo como muitas aulas acontecem, a relação com os professores, tudo isso é objeto de um olhar, às vezes, “desencantado” para o universo escolar.

De uma maneira geral, há muitas queixas em relação aos problemas de funcionamento e organização das escolas públicas. Isso é percebido como falta de compromisso do Estado. Em geral, os jovens alunos se sentem muito insatisfeitos com o ambiente físico da escola.  Escolas feias, mal cuidadas, com grades e funcionando precariamente causam um grande mal-estar.

Eles sabem que isso não é culpa do professor e criticam o Estado também pela falta de uma política de valorização do magistério. Mas esse clima, muitas vezes, produz uma tensão na relação entre professores e jovens alunos. Especialmente quando os professores, reagindo às precárias condições de trabalho, passam a faltar ou não se envolvem com a profissão. Essa tensão geralmente afeta o sentimento de estima, tanto de professores quanto de jovens alunos, alimentando o desencanto com a escola. O ambiente escolar fica ruim e os educadores deixam de ser presenças significativas na vida dos jovens.  A relação pedagógica fica comprometida e, a partir daí, os conteúdos parecem cada vez mais distantes da vida.

Muitos jovens estudantes expressam suas dificuldades para estabelecer uma conexão entre os conteúdos curriculares e suas vidas. Com isso, eles não conseguem encontrar nenhum interesse na escola. Para eles, as aulas e atividades escolares são vazias de sentido e frequentar a escola é muito entediante. Como já vimos no Módulo 2, um estudo da Fundação Getúlio Vargas, com jovens do Ensino Médio brasileiro, intitulado “Motivos da Evasão Escolar”, concluiu que a maior parte dos jovens (40,3%) não frequentam a escola por falta de interesse.

 
  OUTRAS CORES (Para saber mais)

Com o título “Uma relação de amor e ódio”, a edição número 200 da Revista Nova Escola, de março de 2007, abordou o modo como os jovens veem a escola. Através de depoimentos e fotos produzidas pelos próprios jovens, a reportagem trata os sentimentos bons e ruins dos jovens em relação ao espaço escolar, aos professores, aos estudos, aos próprios sonhos  etc. Veja a reportagem!