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OS JOVENS E A ESCOLA

A escola é uma instituição central na vida dos jovens, mas eles também se inserem em processos educativos que não se resumem à escolarização. Como vimos no módulo anterior, essa instituição passou por algumas transformações ao longo de sua história, especialmente no que diz respeito ao público que passou a frequentá-la. Com a chegada desse novo público, a escola se viu obrigada repensar o seu papel e a sua forma de organização.

Estamos acostumados a ver os sujeitos da escola como professores e alunos. Mas eles são muito mais que isso! Por que então ignoramos isso? Por que resistimos a incorporar em nossos currículos e métodos de ensino outros aspectos da vida dos estudantes?

A instituição escolar e o aluno são construções sociais com uma longa história. Durante séculos, foi se consolidando uma cultura escolar com seus tempos, espaços, métodos e currículos que hoje parecem naturais. Quando se fala em escola, logo surgem imagens como o quadro, a mesa do professor, as filas de carteiras, um professor que dirige as atividades e os alunos que seguem as instruções dadas por ele.

Mas os estudantes adolescentes e jovens de hoje têm cada vez mais dificuldades em se adaptarem a esse tipo de escola. Esse modelo exige que o aluno esteja fixo em sua carteira, obediente aos comandos dados pelo professor de acordo com o seu planejamento. Quando pode participar, o jovem aluno deve se engajar em tarefas que são predeterminadas sem nenhuma ou pouca autonomia. Muitas vezes, espera-se dele apenas disciplina e respeito à rotina escolar. Além disso, como os tempos e espaços escolares são muito fragmentados, restam poucas possibilidades para reconhecer e incorporar as diversidades juvenis na vida escolar. Nessa escola, sobra pouco espaço para a interação e o debate em torno de temas que interessam aos jovens. A sociabilidade juvenil, por exemplo, é pouco valorizada. São poucos os momentos de encontro e de diálogo proporcionados pela escola, que ultrapassem os controles da sala de aula.

 
  OUTRAS CORES (Para saber mais)

Se você quiser saber mais sobre essa história leia a obra de José Gimeno Sacristán, O aluno como invenção. Porto Alegre: Editora Artmed, 2005. Veja a sinopse do livro:

"O aluno como invenção" é uma obra que pretende resgatar o valor do sujeito escolarizado como um referente essencial para projetar, desenvolver e avaliar a qualidade da educação. Com um enfoque interdisciplinar, J. Gimeno Sacristán percorre a trajetória seguida pelos jovens para se transformarem em escolares sob o olhar vigilante, disciplinador, protetor e amoroso (às vezes rude e pouco amistoso) dos adultos e, mais especificamente, dos pais, mães, professores e professoras. Além de revelar uma realidade à qual podemos nos tornar insensíveis por estarmos em contato diário, o autor oferece argumentos para resistir às correntes dominantes do pensamento que sacralizam os conteúdos do ensino, como se eles fossem a essência máxima da educação. Quando a preocupação pela qualidade do ensino faz parte de todos os discursos sobre o presente e o futuro dos sistemas educativos, é preciso lembrar que a qualidade da educação – que não é necessariamente a mesma – exige olhar e se dirigir para o aluno, que, ao melhorar como pessoa, aprendiz e cidadão, torna a sociedade melhor.

(Visite o site da editora com a sinopse e mais informações sobre o livro)

 
 

Como lidar com essas contradições entre o modelo escolar e a vida dos jovens? No território escolar, se entrecruzam as culturas da escola moderna, com sua forma historicamente construída, com as culturas dos professores e dos jovens. Isso traz uma série de dilemas e desafios. Esse encontro muitas vezes é marcado por tensões.

No caso de países como o nosso, as relações dos jovens com a escola parecem ainda mais complexas. Essa forma escolar encontra uma sociedade reconfigurada e um novo público, mas em um contexto de grande desigualdade social. Como vimos no módulo anterior sobre a realidade do Ensino Médio no Brasil, a expansão da escolarização básica trouxe para o interior da escola um público que historicamente estava excluído dela. As novas gerações são mais escolarizadas que seus pais. Muitos estudam desde a primeira infância. E eles trazem consigo as experiências de uma sociedade marcada por relações desiguais em termos de raça, gênero, religião e classe social. E o pior é que, muitas vezes, a escola reproduz tais desigualdades silenciosamente.