Uma das formas de violência mais comumente debatidas nas escolas e na mídia na atualidade é o “fenômeno” bullying. As atitudes que o representam são antigas, mas o termo foi criado pelos ingleses somente na década de 1990 e refere-se a manifestações repetidas de intimidação entre agressor e vítima. De alguns anos pra cá, o termo passou a ser usado com tanta frequência e para designar atitudes tão diferenciadas, que seu significado acabou sendo relativamente banalizado, passando a se considerar toda e qualquer forma de zoação direcionada a um outro como sendo prática de bullying.
Nesse sentido, é importante diferenciarmos tanto os termos quanto as práticas, pois o que parece é que há exatamente uma confusão que trata de forma equivalente termos que dizem de práticas bem diferenciadas. Recentemente foi publicado em um site de notícias uma reportagem com depoimentos de famosos que alegam ter sofrido bullying na adolescência.
Além de tratá-los como exemplos de superação, curiosamente a maior parte dos casos parecem muito mais típicos de dinâmicas próprias da zoação do que práticas de bullying (claro que teríamos que conhecer a fundo cada caso para saber a gravidade das agressões alegadas). Sofrer “bullying” por ser perfeita demais, como é o caso da Kate Middleton, esposa do príncipe William, ou porque o encantamento das meninas gerava ciúmes nos meninos, como é o caso do ator Leonardo Miggiorin, parece um tanto descabido. E mais, ao tratar tudo como farinha do mesmo saco, acaba-se minimizando o que realmente deveria ser combatido, que são as desigualdades e hierarquias sociais praticadas na forma de racismo, homofobia e sexismo, por exemplo.
O ambiente escolar, que é um espaço de sociabilidades por excelência, apresenta-se como um lugar bastante propício para o surgimento de conflitos, violências e desentendimentos, e isso não só é um fato, mas também um aspecto intrínseco e necessário às próprias relações. Mas, quando essas formas de agressão e intimidação passam a ser sistematicamente repetidas e direcionadas a uma mesma pessoa, isso recebe um nome e condição específica: bullying.
Na escola, as formas de manifestação desse tipo de atitude variam de acordo com a idade, o gênero e o contexto, mas sempre envolvem no mínimo três agentes: o agressor, a vítima e a plateia. O “valentão” ou “valentona” só se sustentam como agressores porque há uma certa adesão de outros alunos que, seja por medo, seja pela necessidade de pertencimento a uma coletividade, acabam dando força ao coro ou, no mínimo, sendo coniventes pela passividade diante das agressões a outrem.
As formas mais comuns de violência nesses casos se dão através de apelidos pejorativos, gozações, humilhações, exclusões, isolamentos, ameaças, provocações, podendo, em casos extremos, chegar a agressões físicas. As principais vítimas costumam ser os alunos muito tímidos, ou com alguma necessidade especial, ou que não correspondem aos estereótipos normativos de gênero, ou que são negros, ou que são muito estudiosos, ou que têm algum traço físico marcante, ou seja, possuir qualquer característica que desvie do padrão tido como “normal” pode ser motivo para transformá-lo em alvo de humilhações.
A ampliação do acesso à internet e a utilização das redes sociais virtuais como uma das principais formas de comunicação e sociabilidade entre os jovens hoje fez surgir recentemente uma nova forma de manifestação do fenômeno que é o cyberbullying.
CYBERBULLYING OU BULLYING VIRTUAL é aquele que ocorre em meios eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, blogs, redes sociais e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara e a frequência da ocorrência deixa de ser limitada ao tempo de convivência na escola, podendo acontecer a qualquer momento. Adaptado da Revista Nova Escola (agosto 2009) |
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E aí, como tudo isso se passa na sua escola? Você seria capaz de diferenciar os alunos que praticam esse tipo de agressão daqueles que são apenas indisciplinados? Como esses agressores agem na sua escola? E os outros alunos, são coniventes? Existe algum projeto na escola para se debater o assunto? Não se esqueça de que o papel do professor é fundamental no enfrentamento ao bullying, e que todo cuidado é pouco no sentido de não vir a fazer parte dessa plateia. Fingir que não ouviu uma gozação desse tipo, rir junto com os alunos ou reforçar estereótipos só ajuda a agravar ainda mais esse tipo de violência.
TROCANDO IDEIAS
Tema polêmico e de amplo interesse social, o bullying esteve presente em diversos filmes que se propuseram a problematizar a questão seja de forma fictícia, seja baseado em fatos reais. Abaixo algumas boas sugestões para se provocar um debate sobre o assunto e criar na escola uma cultura do diálogo. Elephant (EUA, 2003, Gus Van Sant) Um dia aparentemente comum na vida de um grupo de adolescentes, todos estudantes de uma escola secundária de Portland, no estado de Oregon, interior dos Estados Unidos. Enquanto a maior parte está engajada em atividades cotidianas, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora semi-automática, com altíssima precisão e poder de fogo. Munidos de um arsenal de outras armas que vinham colecionando, os dois partem para a escola, onde serão protagonistas de uma grande tragédia. (Veja mais informações sobre o filme) Bang Bang Você Morreu (EUA, 2002, Guy Ferland) Trevor era tido como “bom aluno”, mas a contínua perseguição que sofre vai lhe marcando até o ponto em que ameaça explodir com todo o time de futebol da escola. É então que o professor Duncan tenta usar o teatro para trabalhar os problemas que não são apenas de Trevor, mas de toda a escola – e da comunidade como um todo. As dificuldades no entanto são enormes, na medida em que quase todos jogam a culpa no “aluno problema” e se recusam a rever suas condutas, fazendo o possível para que Duncan e seus alunos não prossigam com seu projeto. (Veja mais informações sobre o filme) As Melhores Coisas do Mundo (Brasil, 2010, Laís Bodanzky) Mano tem 15 anos, adora tocar guitarra, beijar na boca, rir com os amigos, andar de bike, curtir uma balada. Um acontecimento na família faz com que ele perceba que virar adulto nem sempre é tarefa fácil: a popularidade na escola, a primeira transa, o relacionamento em casa, as inseguranças, os preconceitos e a descoberta do amor. Em meio a tantos desafios, Mano descobre e inventa as ''Melhores Coisas do Mundo''. |
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