Navegação

A A A

Problematizando

“Adolescente pinta cabelo de azul e é impedida de frequentar escola”
Dario de Negreiros, colaboração para a Folha, de Ribeirão Preto em 17/02/2012.

 

“Escola impede entrada de alunas por roupas ‘provocativas’ na zona oeste de São Paulo”
Redação Guia com PbAgora em 03/03/2012.

 

“Bullying por internet contra estudante é debatido em escola: Vítimas não conseguem se defender porque o agressor é anônimo.”
postado em 30/03/2010 no G1.

 

“Escola municipal coloca câmeras em banheiros em São José dos Campos: Medida foi tomada para tentar diminuir a violência. Segundo escola, pais aprovaram a instalação dos equipamentos.”
Postado em 03/04/2012 no G1.

 

“Projetos de lei propõem instalação de detectores de metal nas escolas: Propostas foram apresentadas no Congresso Nacional e na Câmara do Rio, educadores dizem que medida aumentaria potencial de violência escolar.”
Fernanda Nogueira, Glauco Araújo e Paulo Guilherme do G1, em São Paulo 07/04/2011

Para iniciar a conversa, propomos aqui uma reflexão sobre assuntos que, vira e mexe, invadem as mídias causando polêmicas e convocando a sociedade a se posicionar sobre as múltiplas facetas que envolvem essa complicada relação escola-sociedade.  As manchetes acima nos provocam a pensar sobre a radical separação entre as regras escolares e as regras sociais a partir do diálogo entre cultura escolar e cultura juvenil.

Pense bem: o que teria de tão ameaçador à escola no fato de uma aluna pintar os cabelos de azul ou usar acessórios provocativos? O argumento utilizado pela escola, no caso citado, era o de que “o regulamento da escola diz que o cabelo dos alunos deve estar dentro de uma normalidade racional", mas quem define o que é normal ou anormal numa sociedade tão diversa quanto a nossa?

Outra polêmica: será que, ao adotar medidas drásticas de prevenção e controle, tais como colocar câmeras nos banheiros ou instalar detector de metais na entrada, as escolas não estariam abusando da sua autoridade e invadindo a privacidade dos alunos? Será que tais estratégias garantem o enfrentamento à violência, ou, ao contrário, podem “aumentar ainda mais o potencial da violência escolar”, como sugere a manchete? Será que, em tempos de valorização da liberdade de expressão, da diversidade, da pluralidade de ideias e da promoção da cultura do diálogo, as escolas não estariam dando um passo atrás diante de tais conquistas ao impedir ou tentar cercear certas manifestações juvenis?

Tais perguntas não têm e nem devem ter uma única resposta, afinal, as regras, normas e regimentos escolares são construídos dentro de um contexto social, econômico e cultural, que deve sempre ser levado em conta por todos que interagem em determinados âmbitos sociais.

Assim, as regras são necessárias para o bom convívio entre as pessoas, pois são elas que sinalizam para os indivíduos quais são as expectativas sociais que organizam a vida pública. As regras compõem o nosso quadro de referências para vivermos em sociedade e darmos conta de nos inserirmos nos distintos contextos da vida social.

Contudo, a constatação que podemos fazer diante das manchetes acima é que, na maioria das vezes, as proibições só servem para explicitar o quanto a escola cria algumas regras que não possuem vínculos diretos com a aprendizagem ou com a organização da sala de aula. São regras externas ao contexto escolar e que, às vezes, apontam muito mais para valores do mundo adulto do que para aqueles compartilhados pelos jovens. E mais, definitivamente, não há como a escola desconsiderar que as vivências, atitudes, regras e comportamentos experimentados pelos jovens fora dos muros da escola compõem a própria cultura escolar.

Pintar o cabelo de azul ou usar boné é uma manifestação que inviabiliza os contextos de aprendizagem ou de convivência entre os alunos? Por que é tão difícil conviver com alunos que manifestam comportamentos destoantes de uma certa noção de costumes e de valores muito mais correspondentes a uma visão do mundo do que a uma exigência pedagógica?

A proposta então é a de pensar sobre como os jovens do Ensino Médio, considerando toda a diversidade implicada nessa juventude, têm lidado com as regras e normas “impostas” ou “construídas” pela escola. E mais, como o modo com que administram a disciplina ou indisciplina faz parte do jogo de estratégias de manutenção da interação das expressões juvenis com a escola.

Como são elaboradas, cobradas, cumpridas ou transgredidas as regras na sua escola? Em que medida elas têm um caráter construtivo ou meramente punitivo? De que modo elas têm sido capazes de dialogar ou não com a cultura juvenil? Como os alunos e professores têm lidado com tais regras? De que maneira o clima escolar tem interferido na construção de um ambiente de tensão e indisciplina ou, ao contrário, de diálogo e construção? É sobre isso que nos propomos refletir juntos por aqui.