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UMA COISA É UMA COISA, OUTRA COISA É OUTRA COISA... SERÁ?

Bagunceiro, indisciplinado, desordeiro e violento.

É comum a gente classificar os jovens alunos com palavras como essas. Mas será que elas dizem a mesma coisa? Ou, para um professor, dizer que um aluno é bagunceiro é menos grave do que ele ser indisciplinado? E o que é desordem para um pode ser violência para outro?

Bem, como então classificar os atos praticados pelos alunos que alteram as rotinas da sala de aula?

O termo violência deve ser reservado ao que ataca a lei com uso da força ou ameaça usá-la: lesões, extorsão, tráfico de droga na escola, insultos graves. A transgressão é o comportamento contrário ao regulamento interno do estabelecimento (mas não ilegal do ponto de vista da lei): absenteísmo, não realização de trabalhos escolares, falta de respeito, etc. Enfim, a incivilidade não contradiz, nem a lei, nem o regimento interno do estabelecimento, mas as regras da boa convivência: desordens, empurrões, grosserias, palavras ofensivas, geralmente ataque quotidiano e com freqüência repetido ao direito de cada um (professor, funcionários, aluno) ver respeitada sua pessoa. (CHARLOT, 2002, 437)

Assim:

O próprio autor, entretanto, alerta que essa separação é frágil e sua principal função é diferenciar o que aparentemente anda embolado na escola e, assim, ajudar a escola a perceber para onde encaminhar cada caso e ver quem são os parceiros para o enfrentamento da questão.

Mas é importante esclarecer o porquê do professor e da escola não conseguirem separar tão facilmente cada ato como violência, indisciplina e incivilidade. E a razão é o que aqui já estamos discutindo desde o primeiro módulo: a escola não é apenas um espaço de aprendizagem, mas um espaço de vivência e experiência da condição juvenil.

Fora da escola é possível, muitas vezes, diferenciar violência de incivilidade. Assim, em um assalto, por exemplo, há uma intenção de dolo do assaltante em usurpar um bem sob coação da vítima. Aqui a violência pode ser caracterizada com clareza. Já em encontros casuais como, por exemplo, um esbarrão não intencional na rua, espera-se que a pessoa com quem se choca reconheça a impessoalidade do ato, de modo que a questão se resolva com um simples pedido de desculpas.

Mas não é assim na escola e isso se dá porque nela os encontros e desencontros não são fortuitos. O esbarrão no recreio não é dado em uma pessoa aleatória, mas em alguém com quem, possivelmente, se compartilha a vizinhança no entorno da escola e se convive por 200 dias e 800 horas durante anos de trajetória escolar. Essas relações não são impessoais, mas se encontram determinadas por um conjunto de percepções construídas entre os indivíduos em que atua uma dinâmica de mútua-implicação para os atos mais banais como um esbarrão.

Assim, o que era para terminar apenas num pedido de desculpas pode virar um grande banzé que interfere, sem aviso prévio, no ritmo e planejamento das aulas.