Seguindo as Trilhas
Aqui você tem acesso a todos os "Seguindo as trilhas" desta unidade, isto é, os relatos de experiências de escolas, municípios, ONGs que têm desenvolvido projetos de educação integral, revelando seus avanços, dificuldades e desafios no processo.
1.
No Centro Educacional Carneiro Ribeiro, as atividades curriculares, historicamente entendidas como escolares, eram trabalhadas nas Escolas Classe, e outra série de atividades aconteciam no espaço que o educador denominou de Escola Parque, em turno oposto daquele ao qual o aluno tinha sua jornada regular na escola. No Centro, tinha quatro Escolas Classe e uma Escola Parque, segundo a proposta de alternar atividades intelectuais com atividades práticas como artes aplicadas, industriais e plásticas, além de jogos, recreação, ginástica, teatro, música e dança, distribuídas ao longo de todo o dia. A concepção do projeto arquitetônico previa a integração da escola ao desenvolvimento urbano da área em que estava situada.
A ideia de Escola Parque fazia parte do projeto de reformulação do ensino da Bahia, que previa a construção de centros populares de educação em todo o Estado para crianças e jovens até 18 anos. O objetivo das Escolas Parque era ofertar aos estudantes uma educação integral, cuidando da sua alimentação, higiene, socialização e preparação para o trabalho e cidadania. Porém, a única escola concluída foi o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador.
Outras experiências nessa direção surgem em Brasília, nos anos 1960, em meio ao movimento de criação da cidade; vários centros educacionais foram construídos com essa mesma concepção. O educador Anísio Teixeira, compunha, junto com outros educadores, uma comissão que se responsabilizou pela criação e organização do Sistema Educacional da Capital Federal, que pretendia, segundo o Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, tornar-se um modelo educacional para todo o Brasil. Para o nível educacional elementar, foi concebido um modelo de Educação Integral, inspirado na experiência do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, de Salvador. Dentre as experiências criadas em Brasília, nesses moldes, havia a Escola Classe, os Jardins de Infância e a Escola Parque; de forma semelhante à experiência anterior, era destinada a receber os alunos das Escolas Classe, no turno complementar, para o desenvolvimento de atividades físicas, esportivas, artísticas e culturais.
2.
Em 1960, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, desponta a Campanha de Pé no Chão também se Aprende a Ler, com o propósito de erradicar o analfabetismo na cidade. Assim, criam-se várias estratégias de ações na direção do propósito da Campanha. A criação de um Centro de Formação de Professores, em conjunto com centros e praças de cultura, assume a preparação do magistério municipal. A iniciação ao trabalho é assumida com a Campanha de Pé no Chão também se Aprende uma Profissão. Para Moacyr de Góes, Secretário Municipal de Educação de Natal, à época, a educação não ocorre apenas nos prédios escolares, surgindo as bibliotecas populares e programações diárias em rádios locais. Ao desvelar que a escola não é o prédio escolar, ensinou-se a crianças, a jovens e a adultos em acampamentos cobertos de palha de coqueiro e sobre chão de barro batido.
A Campanha De Pé no Chão acrescenta uma série de possibilidades à escolarização nos Acampamentos: as Praças de Cultura; as bibliotecas populares; os círculos de leitura nos Acampamentos; os Círculos de Cultura Paulo Freire; os programas radiofônicos diários; o teatro; o coral; os jograis; as edições de cartilhas para adultos e de literatura de cordel; a mobilização dos grupos de representação de autos populares, cantos e danças folclóricas.
3.
Os CIEPs, instituições idealizadas para a experiência de escolarização em tempo integral voltadas para as crianças das classes populares, funcionaram no período de 1983 a 1987, por Darcy Ribeiro , quando era Secretário da Educação no Rio de Janeiro, no governo de Leonel Brizola. O objetivo era proporcionar aos alunos, educação, esportes, assistência médica, alimentos e atividades culturais variadas, em prédios escolares que obedeciam a um projeto arquitetônico específico. Muitos acreditam que, para criar os CIEPs, Darcy Ribeiro havia se inspirado no projeto Escola Parque de Salvador, de Anísio Teixeira.
Na concepção de Darcy Ribeiro, os CIEPs atendiam aos três requisitos essenciais de uma escola popular eficaz. O primeiro refere-se ao espaçopara a convivência e às múltiplas atividades sociais durante todo o período da escolaridade, tanto para as crianças como para os professores. O segundo diz respeito à ampliação da jornada escolar dos alunos. Essa disponibilidade de tempo possibilitava a realização de várias atividades educativas, como as horas de Estudo Dirigido, a frequência à biblioteca e à videoteca, o trabalho nos laboratórios, a educação física e a recreação. Por fim, o terceiro requisito trata da capacitação do magistério, pois só através do professor e de seu preparo adequado, a escola alcança com todos os seus alunos o domínio essencial dos instrumentos de comunicação social e cultural.