Compreendendo as infâncias

Apesar de sempre ter havido crianças, nem sempre houve a idéia da infância.

O reconhecimento de que ser criança é diferente de ser adulto, ou seja, a idéia de que a infância é um ciclo da vida específico e singular foi historicamente construída.

Hoje, há um conjunto de representações sociais sobre as crianças, que as compreende como atores sociais. Tal idéia coloca-nos em oposição a uma concepção de infância considerada como simples objeto passivo de uma socialização orientada por instituições ou agentes sociais, uma folha em branco em que nós adultos poderíamos escrever o que quisermos.

É importante rompermos com concepções tradicionais dominantes acerca das crianças que os definem como seres irresponsáveis, imaturos, incompetentes.

Algumas idéias sobre a criança...

No período da infância, o mundo ganha significado na experiência simbólica, por meio das interações entre as crianças e entre essas e os adultos. Nessa interação, a criança compreende o mundo, experimenta suas emoções e elabora suas experiências, interpretando e aprendendo.

A imaginação é um exercício que faz parte da construção da visão de mundo pela criança e é uma forma própria de aprender. No desenrolar da brincadeira, a criança mistura o tempo todo vivências que são imaginárias com decisões e circunstâncias que são concretas. Essa transposição imaginária de situações, pessoas, objetos ou acontecimentos ajuda a criança a interpretar e a compreender o mundo, e ainda a construir pensamentos concretos. Fazer de conta é também um elemento central da capacidade de resistência que as crianças possuem diante das diferentes situações.

A necessidade do coletivo é outra forte característica da ação da criança. Em suas interações e em brincadeiras coletivas, as crianças impõem regras, combinados e punições, que podem exercitar seu autocontrole, ao serem obrigadas, por exemplo, durante a ação do jogo, a adaptar suas próprias ações às do companheiro;ou, em uma negociação, a ouvir a opinião do outro e a construir acordos, considerando todas as idéias e interesses. Nas interações com irmãos, adultos e, principalmente, com seus pares, a criança internaliza ações, comportamentos e saberes, notadamente quando a situação vivida envolve coisas que ela não sabe.

Ultrapassando fronteiras

Para ampliar essas reflexões, sugerimos a leitura dos seguintes textos:

1) GOUVEIA, Maria Cristina Soares de. Infância, sociedade e cultura. In: CARVALHO, Alysson et AL (org). Desenvolvimento e aprendizagem. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

2) Sobre infâncias e cultura. Levindo Diniz Carvalho.

A legislação internacional, acompanhando os desenvolvimentos científicos, consigna à criança o estatuto de cidadão de plenos direitos. Trata-se, efetivamente, de conferir à criança um estatuto conceitual e cívico em plano de igualdade com os outros grupos ou categorias geracionais, no quadro da sua especificidade.

Essa especificidade da infância pode ser reconhecida em suas produções culturais, manifestada por meio de brincadeiras, músicas e desenhos, linguagens pelas quais as crianças apreendem e significam o mundo. O portal Cultura da Infância é um espaço para trocas de experiências e relatos de projetos sensíveis às culturas da infância e reúne interessantes exemplos de trabalho.

Os aspectos históricos, sociais e culturais conformam diferentes infâncias. É muito diferente ter sido criança num tempo ou noutro, ser criança num lugar ou noutro, em grupo ou noutro, em uma família ou em outra. Nesse sentido, diferentes crianças, embora tenham traços comuns e características recorrentes em vários ciclos da vida, possuem identidades próprias ou múltiplas identidades construídas a partir de suas interações sociais.

É necessário rompermos com a visão de que as crianças são problemas, e ainda reconhecer a situação estrutural, os contextos de violação dos direitos e as precárias condições de vida e de sociabilidade de muitas crianças.

Uma imagem de criança na escola ou na rua, nos limites da sobrevivência ou na violência e até no tráfico pode ser um gesto trágico, frente ao qual não cabem nem políticas sociais compassivas, nem didáticas neutras. E, menos ainda, autoritárias posturas de condenação. Diante da barbárie com que a infância e a adolescência populares são tratadas, o primeiro gesto deveria ser ver nelas a imagem da barbárie social. A infância revela os limites para sermos humanos em uma economia que se tornou inumana.Miguel Arroyo (2004)

A privação de direitos e as práticas educativas que não reconhecem a especificidade da criança trazem como conseqüência a idéia de que “ser criança não significa ter infância”.

Flashes de viagem

Assistam à roda de conversa “O sujeito na Educação Integral” em que os professores do TEIA/UFMG fazem uma discussão acerca dos sujeitos da educação integral. Eles chamam a atenção para a necessidade de se ampliar o olhar sobre esses sujeitos, percebendo as várias nuances de seus processos formativos. A roda de conversa traz imagens e depoimentos de professores de escolas que oferecem educação integral, sobre as perspectivas educadoras da escola e contribuições de pesquisadores e educadores que nos apresentam questões instigadoras de novas reflexões sobre os sujeitos educandos.

Assim como a infância, a noção de juventude é socialmente construída, sendo um grupo social diverso, no qual estão presentes diversas condições tais como a classe, a etnia, o gênero, entre outras, o que implica compreendê-la na sua diferença. Na tentativa de contribuir para essa compreensão, apresentaremos, a seguir, o que entendemos quando nos referimos a essa fase da vida.