Educação e práticas sociais

Um outro exemplo pode ser visto em grupos culturais juvenis, como os grupos de rap. Nos discursos musicais produzidos por eles, revela-se uma reação dos jovens da periferia aos problemas sociais que os atingem de forma específica, como se observa no trecho da seguinte letra de música:

O racismo e o machismo é demais
(não tá com nada)
Queremos estar ao lado e não atrás
Ele pode tudo, eu vou ver se eu posso
Ele vai onde quer e não respeita o próximo.
No jogo da submissão devo pedir permissão
Acha que é meu dono, mas não é não.
Nossas diferenças devem servir de força e não de empecilho
Não vamos calar a boca
Exigimos respeito dentro dos nossos direitos
Sexismo, injustiça, preconceito
Ao ouvirem nossa posição
Preferiram que estivesse em sua frente dançarina do Faustão
Patricinha de shortinho, pele clara, cabelo lisinho.

Fragmento de “Que venha a folga, ainda que tardia” do grupo de rap feminino Negras Ativas da cidade de Belo Horizonte.

Quando produzem um rap como esse, essas jovens interpretam, ressignificam e problematizam elementos como o preconceito, fator comum em suas realidades. Essa problematização foi elaborada nas experiências de sociabilidade dessas jovens, nos encontros de convivência com seus pares, espaços onde circulam suas opiniões e interesses, onde elas apreendem valores e constroem projetos de vida.

Nós nos constituimos como sujeitos nas relações que estabelecemos em diferentes instâncias de sociabilidade e trocas culturais. Veja o exemplo do educador Gil Amancio, ele relata como suas relações sociais foram fundamentais na comprenssão que ele tem hoje sobre educação e cultura, e na constituição da sua própria identidade:

Flashes de viagem

Confira o depoimento do arte educador Gil Amancio, no I Seminário Teias de Cidadania, em dezembro de 2009:

O arte educador Gil Amancio tem experiências no campo da música e teatro, além de acompanhar diversos projetos de educação e cultura. Atualmente, é membro do grupo NEGA – Núcleo Experimental de Arte Negra e Tecnologia.

Mas, como a escola pode dialogar com essas experiências? Como considerar na escola esses processos educativos e saberes construidos nas diferentes realidades socioculturais? Como a escola pode articular esses saberes aos saberes escolares?

Essas são questões que pretendemos responder ao longo de todo o curso, tendo como pressuposto a idéia de que os diversos campos de aprendizagem se complementam, pois na vida cotidiana mesclam-se as várias práticas: sociais, culturais e educativas.

Vocês podem estar se perguntando: Por que essa compreensão mais ampla do termo educação é necessária para discutirmos a educação integral?

Porque, ao considerar essa perspectiva, passamos a compreender que a educação integral articula-se a uma ampla rede de atores, de práticas e de instituições sociais.

O projeto “Ser-tão Brasil”, por exemplo, ocupa ruas, escolas, praças, centros sociais integrando saberes de educadores sociais, mestres populares, crianças e jovens tendo como eixo a valorização da cultura popular brasileira.

Seguindo trilhas

Ser-tão Brasil redesertaobrasil.wordpress.com/

Este blog reúne grupos culturais de 12 comunidades de Salvador e 16 cidades do interior da Bahia. A partir de articulações político-culturais, pelo bem comum e possibilidade da vida simples e digna em cada lugar, busca inspirar novas experiências organizadas coletivamente, com e pela juventude, que valorizem a criatividade, a liberdade, a criação artística, as culturas tradicionais locais, a relação do homem com a terra e as formas solidárias de sobrevivência.

No site, vocês poderão conhecer inúmeras ações do projeto, vale a pena visitar a programação dos festivais e refletir como essas são atividades que podem contribuir efetivamente para a construção da cidadania.

O projeto é coodernado pelo CRIA – Centro de Referência Integral de Adolescentes, que tem sede em Salvador. O CRIA é um marco nacional nas práticas educativas que valorizam a formação cultural e cidadã de jovens, vale a pena navegar pelo site: http://blogdocria.blogspot.com/

Quando ampliamos nossa visão acerca da educação, somos provocados a refletir que as experiências de educação integral devem considerar o desenvolvimento de todas as potencialidades humanas, as identidades culturais, contextos sociais e principalmente construir “uma prática pedagógica globalmente compreensiva do ser humano em sua integralidade, em suas múltiplas relações, dimensões e saberes” (GUARÁ, 01: 2007).