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A ocupação do território e as migrações...

A ocupação do território, como já foi dito, reflete relações de poder. Dentro do território brasileiro, as desigualdades entre campo e cidade ou entre Norte e Sul são visíveis, assim como entre bairros dentro de uma cidade ou entre regiões do campo com características distintas. Essas desigualdades econômicas, políticas e sociais, bem como as diferenças linguísticas e culturais, alimentam alguns estigmas relativos aos moradores de determinados territórios. Repare no personagem da charge abaixo:

Charge

Você identifica esse personagem como um sujeito do campo ou da cidade? Que elementos te levam a essa conclusão? Que estereótipos estão evidenciados a respeito dos povos do campo?
A charge aponta para a hibridez campo-cidade de que falamos no início. Por exemplo, sabemos que o acesso às tecnologias e ao consumo de bens e serviços não é exclusivo do campo ou da cidade. Ou seja, aquela imagem estereotipada e ridicularizada dos povos do campo, retratada pela figura do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, não faz sentido na realidade brasileira atual (se é que algum dia fez sentido). Não é esse o jovem que os professores das escolas do campo encontrarão, um sujeito isolado do mundo, fixado no campo e ignorante em relação aos modos de vida da cidade.

Mas o fato é que as desigualdades e as diferenças que inferiorizam alguns territórios acabam por estigmatizar os sujeitos que ali vivem. Não é à toa que muitos jovens que moram na favela evitam dizer seu endereço quando vão procurar emprego. Da mesma forma, alguns jovens do campo tentam esconder esse aspecto da identidade quando estão na cidade, como diz um jovem do vídeo “Diz aí juventude rural”, por saber que serão tratados como inferiores.

Aliado a isso, as relações de poder entre territórios, mediadas por interesses diversos, acaba por influenciar ou mesmo estimular mudanças na ocupação do território, ou seja, estimular as migrações.

A migração sempre fez parte da história da humanidade e da história do nosso país também. Aqui no Brasil, a migração teve características distintas em diferentes períodos históricos: a entrada de estrangeiros no Brasil em diferentes períodos e por razões distintas (africanos, europeus, asiáticos...); a saída de moradores do campo rumo aos grandes centros urbanos, que alguns estudiosos chamam de êxodo rural; a saída de pessoas das regiões Norte/Nordeste para o Sul/Sudeste/Centro Oeste e, mais recentemente, a saída de brasileiros para outros países, a migração internacional.

E você, professor do Ensino Médio, deve estar se perguntando o que tem a ver com isso. Muita coisa! Isso porque os jovens são os principais atores dos movimentos migratórios. De acordo com a Organização das Nações Unidas (2007), jovens entre 20 e 24 anos compõem o grupo mais propenso a migrar dentro dos seus países e entre diferentes países, seguidos daqueles situados na faixa etária entre 15 e 19 anos. Por isso, é tão importante que a escola problematize com os alunos as questões relativas à ocupação do território, à mobilidade humana entre territórios e as relações de poder que, muitas vezes, provocam as migrações.

Por exemplo, um jovem do sertão que sofre com a seca ou cuja família foi desalojada pela construção de uma barragem acaba vendo na migração para a cidade o único caminho para a sobrevivência. Ou ainda, um jovem que precisa ajudar no sustento da família e não encontra trabalho na região onde mora acaba tendo que sair em busca de trabalho. Alguns jovens emigram sem data para voltar, outros emigram por um período curto, o que chamamos de migração sazonal (o jovem vai para a colheita de café, por exemplo, e retorna ao final da safra).

E você, tem na sua escola jovens alunos que já vivenciaram, sozinhos ou com a família, alguma dessas experiências migratórias? Que marcas a origem territorial pode deixar nos sujeitos? De que modo a história de vida dos migrantes pode ser trabalhada pela escola?

 
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Quer refletir melhor sobre essa questão ou discutir com seus jovens alunos? Que tal fazer isso a partir das músicas “Herdeiro da Pampa Pobre”, do grupo Engenheiros do Hawaii ou do clássico “Asa Branca”, de Luís Gonzaga. Clique no nome da música para acessar a letra.