“O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer aquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da resistência, das trocas materiais e espirituais e da vida sobre as quais ele influi. Quando se fala em território, deve-se, pois, de logo, entender que está se falando em território usado, utilizado por uma dada população.” (SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2000 p. 96).
O geógrafo baiano Milton Santos é um dos mais respeitados intelectuais brasileiros e conhecido mundialmente pela genialidade da sua obra. Trabalha, dentre outros, com os conceitos de espaço e território, que nos serviram de referência neste eixo. Você pode saber mais sobre as ideias de Milton Santos e sobre o livro citado clicando AQUI |
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A noção de território inclui o uso que as sociedades e comunidades humanas fazem do espaço. Essa noção foi trabalhada pelo geógrafo Milton Santos, como vimos acima. O autor enfatiza que o território é espaço vivido e que, por isso, é construído socialmente pelos sujeitos sociais em suas ações. O território engloba a produção da vida humana em sentido mais amplo, envolvendo as dimensões da produção material da existência, circulação e consumo, bem como as dimensões subjetivas, simbólica, cultural, ética, moral, estética etc. A constituição social dos territórios se dá, então, através das relações que os indivíduos e grupos humanos neles estabelecem. Essas relações no território abarcam conflitos, interesses, convergências e relações de poder. Por exemplo, pense em uma cidade com bairros muito ricos e muito pobres (em geral nas periferias e favelas). Quais bairros são mais visados pela polícia? Quais são mais privilegiados pelo poder público? É assim que a ocupação do território envolve conflitos e disputas de poder, porque são muitos os interesses em jogo. Uma imagem que ilustra bem essa questão é a do mapa mundi noturno, mostrado abaixo, utilizada certa vez pelo próprio Milton Santos para chamar atenção para as desigualdades no nosso planeta. Quanto mais rico o território, mais iluminado. Falaremos mais sobre essa questão.
É por tudo isso que conhecer os territórios em que os jovens estudantes vivem e circulam é, sem dúvida, muito importante para compreendermos os próprios jovens, seus estilos, seus modos de ser e estar no mundo; e também para compreendermos a especificidade sócio-espacial da escola onde estamos inseridos. Além disso, conhecer os territórios e mapear suas potencialidades pode nos auxiliar a perceber espaços sociais educativos para além dos muros da escola, fazendo-nos ver os territórios como espaços educativos.
Observando formas e texturas
O que caracteriza o território onde está localizada a sua escola? |
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Vamos continuar aprofundando esta conversa? Apresentamos agora algumas reflexões acerca da relação entre Territórios e Juventude.
Pensar o tema territórios e juventudes exige pensar a maneira como os jovens constroem e dão significados aos espaços, através dos locais que frequentam, dos estilos de vida, da produção de culturas juvenis, dos padrões de consumo, das relações e da sociabilidade. Exige também pensar de que forma os espaços vividos, construídos e (re)significados pelos jovens influenciam suas escolhas e seus modos de vida. Por exemplo, se o jovem se envolve com grupos culturais, religiosos ou esportivos, e a escola conhece esse envolvimento, isso pode se tornar um importante elemento de diálogo com esse jovem. Do mesmo modo, se o jovem dá sinais de que está frequentando outros espaços do território, reconhecidos pelo comércio e uso de entorpecentes, isso pode ser uma porta de acesso para abordar as inúmeras questões relativas ao uso e comércio de drogas, assunto que pode ser de interesse da juventude e que pode afetar suas vidas, suas famílias e o ambiente escolar.
EXPLORANDO OUTROS MATERIAIS
Vamos ver dois pequenos vídeos que nos ajudam a pensar sobre essas questões? O primeiro vídeo é intitulado “Diz aí juventude rural – identidade” e nos mostra um mosaico de retratos dos jovens que vivem em zonas rurais do Brasil. Já o segundo vídeo, intitulado “Domingo nove e meia”, foi produzido de forma autônoma por um grupo de jovens de Belo Horizonte e que procura retratar movimentos de apropriação e (re)significação do espaço urbano na cidade de Belo Horizonte. “Diz aí juventude rural – identidade”: “Domingo nove e meia”: | |||
Gostaram dos vídeos? É interessante constatar que ambos nos mostram a especificidade das juventudes – no campo e na cidade – e suas formas de apropriação, (re)significação, produção e vivência nos territórios. Obviamente que esses dois vídeos não dão conta de retratar os vários “campos” e as várias cidades brasileiras, mas apresentam muitos elementos imprescindíveis para compreendermos a relação entre juventude e território. Vamos refletir melhor sobre as questões que aparecem nos vídeo...