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Diferenças e desigualdades

Discutir relações de gênero não se reduz ao biológico, exige pensar e questionar relações de poder. Nossa sociedade costuma produzir discursos e situações que hierarquizam diferenças, transformando essas diferenças em desigualdades. Você já pensou nisso? Somos todos diferentes e isso é fato. Porém, há uma construção, muitas vezes, invisível que determina que um polo dessa diferença seja bom e o outro seja ruim. Por exemplo, existem pessoas que moram na cidade e pessoas que moram no campo ou na zona rural. De forma sutil, somos levados a acreditar que morar na cidade é melhor que morar no campo e as pessoas das cidades são superiores ou mais civilizadas que as pessoas que moram no campo. Isso acontece de forma tênue e, muitas vezes, nem nos damos conta. Vejam as representações da vida rural que permeiam as novelas. São normalmente caricaturais, cômicas ou “ingênuas”. Sem perceber, vamos alimentando a transformação de uma diferença em um privilégio. Veja outro exemplo: homens e mulheres. Homens e mulheres são diferentes. Porém, socialmente vai se construindo uma versão sobre essa diferença que coloca homens como mais privilegiados/poderosos que mulheres. E a diferença que existe vai se transformando em uma desigualdade de direitos.

Veja um exemplo de como isso é construído:

 
  OBSERVANDO FORMAS E TEXTURAS

A Bombril lançou uma campanha chamada “Mulheres Evoluídas”:

Nessa campanha, aparecem atrizes vestidas com ternos e se comportando de forma bastante masculinizada, dizendo que isso é a “Evolução”. Além da clássica atribuição da responsabilidade pelas tarefas domésticas às mulheres, há uma mensagem nessa propaganda de que a “evolução” tem a ver com atributos considerados masculinos em nossa cultura. Evoluir é se masculinizar. E, pior, que a evolução significa “adestrar” seu companheiro, numa lógica de reprodução de uma relação de poder opressora. Percebam como uma simples propaganda reitera a hierarquia entre masculino e feminino em nossa cultura. Vejam que a nossa discussão não é sobre ter vagina ou ter pênis (questão biológica), mas sobre o que é valorizado na cultura em relação ao masculino e ao feminino. Ainda se associa ao feminino os aspectos estéticos e morais da fragilidade e, ao masculino, aspectos da força e da virilidade. E ainda se argumenta que os aspectos do masculino são superiores ou melhores que os aspectos do feminino. É assim que a desigualdade de gênero vai sendo construída.

 
 

As relações de gênero estão expressas por todos os lados, então, olhe ao lado, veja de novo. O que você enxerga?

 
  OBSERVANDO FORMAS E TEXTURAS

Nunca houve uma mulher como Gisele

Veja esse três vídeos de uma propaganda de Lingerie com Gisele Bündchen. O vídeo causou muita polêmica e o movimento feminista conseguiu retirá-lo do ar. Veja os vídeos e como são representadas a mulher e o homem na propaganda.

São três comerciais da marca de lingerie “Hope”. Cada um deles começa com a frase “Hope ensina”. E no caso, a professora é a Gisele Bündchen. No primeiro, ela diz ao marido que “bateu o carro”, no segundo, que “estourou o cartão de crédito” e, no terceiro, que “mamãe vem morar com a gente”. Ela aparece em dois momentos, em um, vestida comumente e, no outro, apenas com peças íntimas. O recado é direto, após o primeiro momento, a frase “errado”, após o segundo momento, a frase “certo”. E no final: “Você é brasileira, use o seu charme”.

Mulher de lingerie “convence” o marido mais facilmente. Mas também não é qualquer mulher, é a de uma “top model” que tem um determinado corpo, um determinado status. A mensagem divulgada é que toda mulher, por ser brasileira como Gisele, para “dobrar o marido”, basta usar a lingerie do anuncio. Será que é assim?

Há ainda uma mensagem que reitera o ditado “mulher no volante, perigo constante”. O tom da propaganda é como se o dono do carro fosse o homem e a mulher, ao utilizá-lo, fez algo errado e ainda tem medo de contar ao dono, como se conduzir um carro, conduzir a própria vida, conduzir as próprias escolhas não fossem coisas de mulher, segundo essa propaganda.

Outro ponto que a propaganda reforça é a questão da relação das mulheres com o consumo. Na cena do cartão de crédito, está a mulher que compra de forma insana com um dinheiro que não lhe pertence, que não foi ela que trabalhou para ganhar. Reitera-se um estereótipo da mulher como consumidora ensandecida e como a gastadora do dinheiro suado do homem. É como se a mulher não trabalhasse, não tivesse condições de cuidar do próprio dinheiro e de fazer escolhas acertadas de como utilizá-lo.

 
 

Todas essas propagandas e imagens que abordamos podem ser discutidas e problematizadas com os estudantes em sala de aula. Ensinar a analisar criticamente as mensagens da mídia é uma tarefa de um Ensino Médio Inovador. Os exemplos disponíveis nesse texto se entrelaçam com um dos macrocampos do Ensino Médio Inovador: a Cultura Corporal. Nesse macrocampo, encontram-se indicações da importância do corpo e de seus afetos como aspectos relevantes e constituintes do mundo juvenil.