Para começar a falar sobre juventude e relações étnico-raciais, vamos utilizar como exemplo uma situação bastante corriqueira no interior das escolas e, por vezes, tomada como banal: os apelidos.
Muitas pessoas costumam dizer que o Brasil é o país dos apelidos. De modo geral, todos nós, em algum momento da vida, já fomos identificados por meio de apelidos que, nas relações cotidianas, assumem o lugar do nome próprio. Os apelidos podem ser atribuídos por familiares, colegas de trabalho, colegas de sala de aula, enfim, amigos e inimigos. No Brasil, o uso de apelidos é tão disseminado, que sua utilização foi regulamentada pela Lei nº 9.708, de 18/11/1998, que dispõe sobre Registros Públicos e possibilita a substituição do prenome por apelidos públicos notórios.
Art. 1o O art. 58 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios." (NR)
"Parágrafo único. Não se admite a adoção de apelidos proibidos em Lei." (NR)
Fonte
Entre os estudantes de sua escola e de sua sala de aula, você já deve ter ouvido muitos apelidos. Alguns são populares e até bastante disseminados, enquanto outros são “guardados a sete chaves”. Eles podem se referir ao nome próprio, a hábitos ou manias, a trejeitos ou a alguma característica física.
Mas o que nos interessa discutir neste modulo é o fato de que, em geral, garotos(as) negros(as) e brancos(as) têm apelidos que remetem a distintos significados. Entres os jovens negros em fase escolar, por exemplo, é comum que seus apelidos se refiram, direta ou indiretamente, à cor de sua pele. Ex: Pelé, Obina, negão, crioulo, macaco etc. Entre as meninas negras, tal associação também tende a ocorrer. No caso delas, entretanto, as referências ao corpo e ao cabelo estão, em geral, vinculadas aos padrões de gênero e de beleza socialmente definidos. Entre os jovens brancos, a associação entre apelidos e seu pertencimento racial também ocorre, mas é, comparativamente, menos recorrente.
Evidentemente que os exemplos apresentados acima não se configuram como uma regra. Afinal, ser negro não determina que alguém possua um apelido que remeta ao seu pertencimento étnico-racial. Mas seria interessante se você, a partir desta reflexão inicial, pudesse fazer um exercício com os estudantes de sua escola.
Observando formas e texturas
Faça uma enquete com estudantes de diferentes pertencimentos étnico-raciais de sua escola. Pergunte a eles(as) seus apelidos e como eles surgiram (quem os criou, em que espaços eles são usados). Observe se algum dos apelidos faz referência ao pertencimento racial dos estudantes. Faça listas com os apelidos agregando os mais comuns. A partir desses agrupamentos, comente com seus estudantes os contextos de produção desses apelidos e como eles se relacionam com eles. Depois, comente suas conclusões no Fórum. |
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