Como vimos, muitos jovens conquistam um espaço no mercado de trabalho ainda na adolescência e acabam vivenciando a experiência de trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Esta característica da relação entre trabalho e os segmentos juvenis no Brasil não é como nos países desenvolvidos, embora essa realidade esteja se alterando em virtude da recente crise econômica que afeta alguns países europeus como Portugal, França e Espanha. Ultimamente o desemprego juvenil tem crescido nesses países. Além disso, muitos deles estão restringindo suas políticas sociais.
No entanto, o que nos interessa ressaltar é que o Brasil não conta com um modelo de inserção dos jovens na vida profissional que seja um suporte no processo de transição da escola para o mercado de trabalho. Em países, como a Alemanha, por exemplo, há políticas que procuram articular melhor a formação geral no Ensino Médio, a formação técnico-profissional e a inserção no mundo do trabalho (Hasenbalg, 2003).
Muitas vezes, na relação dos jovens com a escola, a dimensão do trabalho permanece ofuscada. Suas experiências, necessidades e demandas são estranhas para uma escola que não fala sua língua, que ignora o que eles fazem e sabem, levando-os a sucessivas repetências e abandonos. Esse distanciamento reforça ainda mais a falta de sentido da escola para muitos jovens, que planejam um futuro melhor a partir da educação e do trabalho, mas que não conseguem conectá-los com sua vida presente.
O cotidiano de muitos jovens é marcado por uma jornada exaustiva de trabalho, muitas vezes, em condições precárias ou em tarefas que oferecem poucas perspectivas profissionais no futuro. As dificuldades para cumprir as tarefas e se concentrar nas atividades pesa muito na sua experiência escolar. Em muitos casos, a rigidez da organização escolar (tempos, conteúdos, avaliações) dificulta o seu desempenho.
Para muitos jovens, a escola pode parecer distante, pois não está sintonizada com as suas vivências. Assim, o trabalho seria mais atrativo como um espaço em que este jovem poderia dar significado a seus desejos, planos e ações.
Essa situação lança um duplo desafio aos professores que atuam com jovens, especialmente no Ensino Médio.
Em primeiro lugar, é fundamental conhecer as diferentes inserções e experiências de trabalho dos seus alunos e alunas. Ele é um espaço importante em que se desenvolvem aprendizagens, relações e interações marcantes na experiência juvenil. O trabalho tem impactos importantes nas trajetórias juvenis, especialmente nas experiências de escolarização dos jovens. Esses impactos vão desde aspectos positivos, como “aprender” a se relacionar melhor e ser mais responsável, a aspectos negativos, como ter que administrar o tempo de trabalho e o tempo de estudo em condições que, muitas vezes, não contribuem para isso. Trabalhar o dia inteiro e ir direto para a escola, chegar cansado ou já “estressado” com fatos ocorridos no trabalho torna-se um peso muito grande para esses jovens estudantes. Como será que você, cursista, trabalha essas questões na sua escola? Elas são observadas ou não são levadas em conta?
Em segundo lugar, precisamos refletir sobre o papel da escola nesse âmbito. Uma pesquisa realizada com mais de três mil jovens brasileiros em 2004 constatou que, para 76% deles, a escola era muito importante em razão do seu futuro profissional. Ao mesmo tempo, o emprego e a formação profissional apareciam como a segunda maior fonte de preocupação para eles (ABRAMO E BRANCO, 2005).
Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) (Lei 9394/96), o Ensino Médio é definido como a etapa final da escolarização básica, que deve proporcionar uma formação geral para a vida, articulando ciência, trabalho e cultura. Essa concepção está contemplada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio aprovadas em 2011 pelo Conselho Nacional de Educação. A preparação para o mundo do trabalho é apresentada como uma das dimensões importantes do Ensino Médio. Nesse sentido, do ponto de vista da formação geral, a escola deve planejar ações educativas que permitam ao estudante compreender e se orientar no mundo do trabalho contemporâneo. Além disso, a escola deve proporcionar experiências de preparação para o trabalho, se articulando com iniciativas de formação técnico-profissional específicas. Por exemplo, quando trata do macrocampo “Formação Científica e Pesquisa”, o Documento Orientador do Programa Ensino Médio Inovador (MEC, 2011), afirma:
“Nesse sentido, as escolas do Ensino Médio Inovador, devem orientar os seus conteúdos, atividades e projetos educativos para contemplar a dimensão do trabalho, como um dos eixos transversais que perpassam seus oito macrocampos curriculares. As atividades de cunho científico deverão permitir a interface com o mundo do trabalho na sociedade contemporânea, com as tecnologias sociais e sustentáveis, com a economia solidária e criativa, o meio ambiente e outras temáticas presentes no contexto do estudante.” (MEC, 2011, p. 15)
Da mesma forma, o parecer do Conselho Nacional de Educação sobre a proposta do Programa Ensino Médio Inovador (MEC, 2009) reafirma tal concepção:
“O trabalho é entendido, na concepção de produção de bens e serviços, como um dos princípios educativos básicos do Ensino Médio, posto ser por meio deste que se pode compreender o processo histórico de produção científica e tecnológica, bem como o desenvolvimento e a apropriação social desses conhecimentos para a transformação das condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. (MEC/CNE, 2009, p. 4)”
Em que medida a escola pode contribuir para que as experiências juvenis no trabalho não sejam tão dissociadas da escola? Como proporcionar uma relação frutífera entre escola e trabalho?