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Relacionando juventude e trabalho

Sabemos que a relação das pessoas com o mundo do trabalho tem se modificado com o passar dos anos, não é mesmo? Basta olhar para trás e pensar em nossos pais e avós, por exemplo. Quem não conhece alguém que trabalha/trabalhou boa parte da vida numa mesma empresa? Além disso, terminar o Ensino Médio, de certa forma, era uma “garantia” de entrada em um emprego. E como está hoje? Pensando especialmente nos jovens, como é o mercado de trabalho hoje para eles? Os jovens têm conseguido um espaço neste mundo tão competitivo?

Nem precisamos pensar muito para responder a estas questões, principalmente quando olhamos o “novo” contexto em que estamos inseridos. As novas tecnologias, o crescimento do setor de serviços, a flexibilização dos contratos, entre outras mudanças, tornam o mundo do trabalho confuso e diverso. Assim, os jovens passaram a conviver com maiores riscos e incertezas com relação ao mercado de trabalho. A imagem que se tinha de um trabalho para toda a vida, em torno do qual se estruturavam os projetos de futuro, passa a ser relativa.

A experiência do desemprego

Todas essas mudanças contribuem para o desemprego entre os jovens, que cresceu muito a partir dos anos 1990. Veja as manchetes abaixo. Elas evidenciam bem essa questão, revelando como o desemprego é uma experiência comum para muitos jovens.


Fonte: Revista Veja - 11/08/2010


Fonte: Opinião e Notícia (IPEA)


Fonte: www.educacional.com.br – Entrevista 0027

De maneira geral, a falta de trabalho para os jovens passa a ser vista como um problema social. Para os jovens e suas famílias, o risco do desemprego se torna motivo de preocupação. Muitas vezes, isso é vivido como desestruturação, com receios e um sentimento de vazio.

Mas, se a experiência do desemprego tem esse significado geral, ela é vivida de maneiras diferentes pelos jovens, conforme suas condições pessoais e sociais. Aqueles com menos recursos “sofrem” mais com esta situação. Além disso, a relação com o trabalho e com o desemprego também é diferente dependendo da origem social ou regional, do sexo, da escolaridade etc. Se tomarmos como exemplo a Região Metropolitana de São Paulo, em 2009, enquanto 22,2% das jovens mulheres de 16 a 29 anos estavam desempregadas, esse número era de 15,3% para os jovens homens. Também há diferenças entre mais novos e mais velhos: 49,6% dos adolescentes (16 a 17 anos) estavam desempregados, enquanto 15,7% dos jovens-adultos (25 a 29 anos) se encontravam na mesma situação. Entre os jovens negros, 21,2% estavam desempregados, contra 17,2% dos brancos.

Por outro lado, como dissemos antes, há muitas características do trabalho que dão um sentido à vida das pessoas e atraem os jovens. No caso do Brasil, o trabalho faz parte da condição juvenil. Estudar e trabalhar é uma realidade para muitos jovens! Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2007, 21,8% dos jovens de 15 a 17 anos trabalhavam e estudavam ao mesmo tempo naquele ano. Quando se trata apenas dos homens, esse número sobe para 26,4% (IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2008). Isso sem considerar o trabalho oculto (os “bicos”, o trabalho doméstico etc.) que não é computado nessa estatística.

Outra característica da relação dos jovens com o trabalho, a partir da realidade brasileira, é que o Brasil não estruturou uma rede de proteção social que possibilitasse um período de formação e preparação anterior ao trabalho para todos. Para muitos jovens das camadas populares, as primeiras experiências de trabalho já ocorrem desde a infância, como, por exemplo, ajudar nas atividades domésticas ou fazendo “bicos”. No meio rural, o trabalho também aparece desde cedo em alguns casos, como trabalhar no plantio e na colheita de outros agricultores ou auxiliar os pais em suas atividades diárias. Essas são experiências que nem sempre são consideradas como trabalho. Em geral, as famílias das camadas populares valorizam essas atividades por diversos motivos: contribuem para a renda familiar, afastam os jovens “da rua” e “forjam o caráter”deles.

Trabalhar passa a ser uma experiência comum, natural na vida dos filhos das famílias mais empobrecidas. O problema é que, muitas vezes, essa primeira socialização no trabalho pode se tornar o destino de muitos jovens que não contam com melhores oportunidades de inserção e formação profissional.

Além de não contar com uma rede de proteção social adequada, os jovens, no Brasil, se deparam com mudanças no mundo do trabalho, que trazem inseguranças e incertezas com relação à entrada e permanência no mercado de trabalho. Ter um emprego tem sido uma grande preocupação para muitos jovens. Tal contexto influencia a relação dos jovens com o mundo do trabalho.

Nesse contexto, o desemprego torna-se uma grande preocupação para os jovens, seja pela pressão social ou familiar, seja pelo próprio desejo de trabalhar. A charge ao lado retrata bem esse sentimento presente na experiência dos jovens contemporâneos. Por que, afinal, o trabalho “corre mais” que o jovem? Uma das respostas que temos para essa questão se relaciona com a exigência de experiência prévia para se alcançar uma inserção no mercado de trabalho.  Para muitos, tal exigência representa mais uma “barreira”, pois se trata do primeiro contato com o mundo do trabalho. Cria-se então um círculo vicioso, pois o jovem busca uma inserção para ganhar experiência, mas, ao mesmo tempo, só consegue se inserir se tiver uma experiência anterior.

 
  EXPLORANDO MATERIAIS

Nesse contexto de desemprego e diante de tantas dificuldades, os jovens não ficam passivos. Eles buscam alternativas de geração de renda e trabalho, como podemos observar nas experiências abaixo.