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Projeto de Futuro e sua relação com a família

Quando falamos de projetos de futuro, percebemos que esses vão se “desenhando” a partir de um campo de possibilidades, como já citado; mas esse campo não deve ser visto também como algo que não pode mudar, pois há oportunidades não esperadas que podemos encontrar no caminho, redes de contatos e pessoas com as quais convivemos. “Muitas coisas” podem interferir nos nossos projetos de futuro, potencializá-los e até mesmo mudá-los. Quando falamos de jovens, não é diferente. Diante de um futuro de incertezas e vidas labirínticas, quem os apoia em vista dos seus projetos de futuro?

Os projetos começam a aparecer no próprio cotidiano. Desde criança, somos interrogados sobre o que vamos ser quando crescer. Ao entrar na escola, as perguntas continuam e, com o passar do tempo, ao se tornar jovem, as perguntas só aumentam. O que você vai fazer quando terminar de estudar? Você já namora? Você está trabalhando? Quando vai começar? Vai fazer faculdade? Uma série de questões que remetem aos possíveis projetos futuros que os jovens possam ter. Mães, pais, avós, avôs, tios e toda uma rede de parentesco ocupam lugar considerável no universo de relações sociais de jovens dos diferentes meios, classes etc. e questionam sobre o que se vai fazer no futuro. Assim, a elaboração de projetos de vida e as trajetórias dos jovens, em especial, se dão num mundo complexo, tanto em termos de pertencimento e papéis sociais, quanto, sobretudo, de crenças, valores e referências simbólicas.

A família, dessa forma, ocupa um lugar de destaque no processo de elaboração dos projetos de futuro de muitos jovens, pois é ela que incentiva, contribui e até mesmo sonha junto com os jovens certos planos considerados mais distantes. Pais, mães ou responsáveis incentivam ou deveriam incentivar os jovens a buscarem diferentes projetos de futuro. De um lado, esse projeto tem relação com as expectativas e sonhos do próprio jovem e, de outro, com o desejo da família de ver esse jovem “se tornar alguém na vida”, alguém que ultrapasse o que pais, mães ou responsáveis conseguiram ser. É claro que há famílias que desejam, por exemplo, que o filho “siga” o mesmo caminho dos familiares e até aquelas que não estimulam a continuidade de um projeto familiar nem novas projeções de futuro.

É importante chamarmos a atenção para a não homogeneidade da construção de projetos de futuro. Ou seja: projetos de pais e filhos são diferentes e os possíveis projetos que a família pensa para seu filho podem ser diferentes daquilo que o jovem projeta para si. Isso acontece, especialmente, devido às diferenças de contexto, geração e também trajetórias, mas, de maneira geral, existe o apoio da família. A família pode atuar como suporte para que os projetos de futuro das jovens gerações tenham possibilidade de se concretizar. O que chamamos aqui de suportes ultrapassa a dimensões de ajuda material, ganhando o sentido, também, de apoio subjetivo, simbólico ou, como se costuma dizer, “apoio moral”. Assim, os amigos, a escola, o trabalho e outros aspectos que parecem insignificantes podem se constituir em suporte, desde que tenham significado enquanto tal para o indivíduo.

“(...) um indivíduo (...) pode estar imerso em uma rede material precária, mas ainda assim ser capaz de construir-se a partir de si mesmo, de construir para si suportes que lhe permitam construir-se subjetivamente. Os suportes não são necessariamente materiais, eles podem ser imaginários, podem ser visíveis e invisíveis e possuírem graus diferenciados de aceitação social” (DAYRELL &CORROCHANO, 2009, p.131).

Além de ser vista como um suporte e ser inspiradora para a construção de projetos de futuro dos jovens, a família também é parte contemplada nesses projetos. Em uma pesquisa desenvolvida no Pará, os jovens das camadas populares confirmam em seus depoimentos o quanto a família está presente em seus projetos de vida, principalmente como forma de retribuição ao apoio recebido até então.

“Quero ser alguém na vida para ajudar os meus pais fazer faculdade e arrumar um trabalho remunerado...” (H, 19 anos, Grupo 8)

“Eu me espelho na minha mãe. Ela é uma pessoa muito forte e decidida. E se acaso um dia eu completar meus estudos, eu pretendo ter um patrimônio meu e vou ajudar, é lógico, a minha família...” (H, 18 anos, Grupo 8)

Em ambos os depoimentos, os jovens enfatizam a preocupação em ajudar a família como um conteúdo norteador de seus projetos de futuro. O segundo depoimento reforça a constatação de outras pesquisas, que apontam a figura da mãe como referência: “eu me espelho na minha mãe”. Assim, o papel da mãe, em especial, tem importância na transmissão de valores e crenças, nos direcionamentos das relações sociais, e nos parâmetros de escolha, incidindo diretamente nos projetos de futuro dos jovens.

Diante desses depoimentos, ao contrário de uma imagem socialmente construída, podemos dizer que os jovens reservam à família um lugar de destaque, demonstrando esse lugar a partir da própria construção de seus projetos de futuro.