No seu percurso, o jovem vai se (re)constituindo e se reconhecendo nos limites postos pelo tempo e espaço em que está inserido. Esse limite é o que chamamos de campo de possibilidades, com elementos objetivos que afetam a vidas dos jovens. O campo de possibilidades contradiz a ideia de que a conquista dos projetos de futuros dependem somente do esforço pessoal ou da vontade própria do indivíduo, pois nos fazem perceber em que “limites” sociais, culturais e políticos os jovens se movem na construção do seu presente e futuro.
“Meu caminho pelo mundo |
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A música de Gilberto Gil, por exemplo, reforça a ideia de que o caminho de cada um é traçado pelo indivíduo, sem qualquer tipo de interferência. Por outro lado, cabe lembrar que os projetos de futuro dependem do contexto social, econômico e cultural no qual o jovem está inserido.
“No meio do caminho tinha uma pedra |
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O poema de Carlos Drummond de Andrade se contrapõe à música de Gilberto Gil, ajudando-nos a compreender como o campo de possibilidades interfere e, de certa maneira, “norteia” os projetos de futuro, com seu “jogo” de condições, entre obstáculos e alternativas. De fato, a viabilidade dos projetos de futuro vai depender do campo de possibilidades no qual o jovem vivencia seus desejos, mapeia trajetórias, desenha e redesenha escolhas. Desse modo, o campo de possibilidades compreende as alternativas possíveis de serem sonhadas e desejadas, individual ou coletivamente, no contexto sociocultural no qual os sujeitos estão inseridos. Assim o campo de possibilidades delimita ou potencializa um projeto de futuro, pois diz respeito às possibilidades reais que os jovens têm para construírem seus projetos.
Por exemplo, um jovem que quer ser jogador de futebol, mas não pratica o esporte, devido à falta de tempo, e que nunca teve a oportunidade de ir a um teste para ser jogador dificilmente terá seu projeto concretizado, pois sua situação de vida não o coloca em contato com esse universo futebolístico, ou seja, seu campo de possibilidades se apresenta restrito para esse projeto específico. Podemos dizer que os projetos de futuro nascem e se desenvolvem tendo como referência o tempo presente, mas não deixando de estar diretamente relacionado com o passado e o futuro. Sendo assim, as escolhas e as decisões que foram e/ou que serão feitas irão interferir nos projetos.
O pesquisador José Pais (2001) nos chama atenção para a não linearidade dos projetos de futuro tendo em vista que, na modernidade, as possibilidades são tantas que a ideia de linearidade dá lugar a outra, de um futuro de incertezas, de vidas em labirintos, como podemos observar no plano traçado por Mafalda na charge a seguir.
Não podemos deixar de citar que a realidade e as possibilidades não são iguais para aqueles de diferentes classes sociais, raça/etnia e gênero. Assim cada sujeito vai desenhando seus projetos de futuro dentro do campo de possibilidades que – além das demarcações objetivas – também é limitado e/ou potencializado dependendo do grupo ao qual pertence.
Buscando uma reflexão sobre o que conversamos até o momento, poderíamos dizer que existe uma visível articulação entre projeto de futuro, campo de possibilidades e formação de identidade. E você, o que acha disso? Poderíamos fazer essa relação? Em que medida os seus jovens alunos constroem planos de futuros e modificam-no de acordo com o seu campo de possibilidade? E como vão se construindo as identidades desses jovens alunos? No fórum de discussão, estaremos debatendo algumas dessas questões. Confira as atividades propostas na plataforma moodle.