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Desafios do Ensino Médio

O Ensino Médio no Brasil apresenta desafios consideráveis que não são novidades para você, mas vale a pena lembrá-los. Uma série de estudos e pesquisas apontam algumas variáveis que vêm interferindo na qualidade do Ensino Médio. Dentre elas, podemos citar:

A seguir, refletiremos um pouco sobre cada uma delas.

Como já abordamos neste módulo, o currículo do Ensino Médio é marcado por interrogações históricas, que nos remetem a pensar nas finalidades desta etapa da educação básica e nos sentidos da escolarização para os sujeitos jovens.

Comecemos afirmando que os jovens alunos de nossas escolas não são receptáculos de informações descontextualizadas, mas sujeitos ativos do processo educativo, e nós, professores/as, não somos meros transmissores de conteúdos. Pensando assim, precisamos superar o descompasso entre o currículo e a vida cotidiana, entre os conteúdos escolares e as demandas da vida prática. Isso quer dizer que, quando os currículos escolares se aproximam do cotidiano vivenciado pelos jovens alunos, pode ocorrer uma efetiva construção de significados sobre o conhecimento, os jovens alunos podem usufruir dos conhecimentos apreendidos na escola e podem, com isso, alterar os sentidos da própria escolarização.

Para superar este descompasso, é fundamental repensar a relação entre as diferentes disciplinas, conteúdos, práticas individuais e coletivas, que se instituem no interior da escola. Isso possibilita falar em trabalho interdisciplinar. O trabalho interdisciplinar requer, antes de tudo, uma explicitação das diversas concepções de educação, de sujeito, de ensino e de aprendizagem, que permeiam os contextos escolares e nossas práticas pedagógicas. 

Explicitar essas concepções é admitir que o ato de ensinar é inseparável da concepção de mundo do professor.  E aprender é uma relação que o sujeito trava consigo mesmo, com a intervenção do outro, com o objeto do conhecimento, com o (seu) mundo e com o meio social. Tal afirmação nos remete à necessidade de fazer da escola um espaço de interações e interlocuções entre professores, entre esses e os jovens alunos, jovens alunos entre si e entre os demais trabalhadores da instituição escolar.

Estas ações exigem ousadia, coragem, conhecimentos, pois não é simplesmente mudar uma prática pedagógica, trocar o velho pelo novo. Implica reavaliar, transformar, ressignificar conceitos e valores, pensando sobre questões contemporâneas que produzem sentidos na vida dos jovens alunos.

Ainda vivenciamos um contexto de precariedade na infraestrutura em muitas escolas brasileiras. Em grande parte, esse problema é evidenciado pela falta de investimentos públicos necessários para a concretização de um ambiente que apresente condições mínimas necessárias para a realização do processo de ensino-aprendizado de qualidade. Laboratórios de ciências e de informática bem equipados, salas de aula adequadas, bibliotecas, quadras de esportes e outros espaços educativos adequados às necessidades dos professores e dos jovens alunos são algumas das necessidades já apontadas em censos escolares, filmes e documentários sobre o Ensino Médio brasileiro.

Nesse contexto, não podemos deixar de lembrar a atualização de nossas escolas com as novas tecnologias. O maior desafio aqui consiste não apenas na compra de aparelhos e materiais, mas sim em uma efetiva preparação para utilização dessas novas tecnologias, aliadas ao currículo escolar.

Os problemas na infraestrutura das escolas, aliados às dificuldades cotidianas da gestão escolar, configuram um grande desafio para o Ensino Médio no Brasil.

O que observamos ainda é que o professor vivencia cotidianamente problemas que interferem em seu fazer pedagógico e essas interferências afetam diretamente a motivação e envolvimento de boa parte dos professores.

O desafio relacionado à condição docente abarca dificuldades nas próprias condições de trabalho que vão desde a formação inicial e continuada, à remuneração, à (im)possibilidade de dedicar-se integralmente a uma escola, à falta de equipamentos adequados para as aulas e à composição do quadro docente nas escolas – que é especialmente problemática em determinadas disciplinas como Matemática, Física, Biologia e Química,  para as quais faltam professores habilitados.

Além das questões mais objetivas, como as condições de trabalho e a baixa remuneração, não podemos deixar de destacar as múltiplas cobranças sobre esses profissionais, que precisam estar bem informados, atualizados sobre novas tecnologias, ligados no que acontece com os jovens à sua volta etc., mas que, ao mesmo tempo, não têm acesso a uma formação continuada que dê conta de suprir essas expectativas.

Segundo Tardif, (2005, p.23) “a escolarização repousa basicamente sobre interações cotidianas entre os professores e os alunos. Sem essas interações, a escola não é nada mais que uma concha vazia. Mas essas interações não acontecem de qualquer forma: elas formam raízes e se estruturam no âmbito do processo escolar e, principalmente, do trabalho dos professores sobre e com os alunos”.

Heterogeneidade é a palavra que traduz as inúmeras formas de interação estabelecidas entre professores e jovens alunos no cotidiano das escolas. Diversidade é a palavra que denomina os mais variados grupos sociais e sujeitos que invadem esse cenário. Há uma pluralidade de professores/as que adentram a escola, vão para as salas de aula, “dão aulas”, corrigem avaliações, frequentam a sala de professores;assim como existe uma pluralidade de jovens alunos que circulam todos os dias pelas escolas, corredores, salas de aula, pátios...

Na escola, os sujeitos jovens viram alunos. E essa é uma das tensões que perpassam o encontro dos jovens com a escola. Tanto a escola quanto os jovens alimentam expectativas. Enquanto a escola espera receber sujeitos “mais interessados”, mais “adultos”, os jovens buscam uma escola aberta à interlocução, às suas práticas, às suas demandas e às suas trajetórias biográficas. Suas formas de oposição, suas manifestações de indisciplina, lidas pelos professores como franca disputa, são, muitas vezes, um modo de dialogar com a escola ou mesmo de resistir aos modelos de escolarização que não têm vínculo com suas necessidades e interesses, uma vez que os ritmos, as estratégias, os tempos e as propostas educativas são os mesmos. Por sua lógica instrumental, a escola reduz a compreensão da educação e de seus processos a uma forma de instrução centrada na transmissão de informações.

Os desafios que apresentamos acima e tantos outros que você registrou evidenciam o complexo cenário do Ensino Médio. Muitas medidas serão necessárias para o enfrentamento destes e de outros desafios que se colocam no contexto do Ensino Médio. No próximo tópico, vamos falar do Programa Ensino Médio Inovador.  Este programa é uma das ações que vêm sendo desenvolvidas no chão das escolas e que têm contribuído para a reflexão sobre esses desafios, especialmente no que diz respeito ao currículo e às demandas dos sujeitos da escola, especialmente os jovens.