Antes de falarmos dos números relativos ao Ensino Médio, vamos identificar os jovens, no conjunto da população brasileira. No gráfico a seguir, podemos observar a pirâmide etária, tendo como referência o ano de 2010.
Veja que a população considerada jovem, entre 15 e 29 anos de idade, representa uma parcela significativa da população do nosso país, aproximadamente 30%. Diante de um número tão expressivo, logo nos perguntamos: o que será que tem sido feito para esse grupo em nosso país? Será que essa grande faixa da população tem sido atendida pelas políticas públicas? Se pararmos para pensar, vamos perceber que existem poucas ações governamentais voltadas especificamente para os jovens, embora eles representem quase um terço da população. O que existe em sua cidade na área de saúde, lazer, esporte, cultura, trabalho etc. com foco na juventude?
Talvez pouca coisa. O que a gente percebe é que a educação é uma das poucas políticas que atende a grande parte da juventude brasileira. A escola aparece, portanto, como um dos principais espaços de apoio, presença e sociabilidade dos jovens. Sendo assim, a educação não deveria ser o ponto chave das ações do governo?
Pois bem, se tomarmos a idade considerada ideal para cursar o Ensino Médio, 15 a 17 anos de idade, observamos que apenas 50,9% desses jovens encontram-se nesse estágio de ensino. Onde estão os outros quase 50%?
Dados sistematizados pelo IPEA (2010) demonstram que as desigualdades no acesso ao Ensino Médio são pronunciadas, especialmente quando considerada a renda das famílias dos alunos: entre os jovens mais pobres, 31,3% entre 15 e 17 anos de idade cursavam o Ensino Médio, proporção que, para os mais ricos, é de 72,5%, ou seja, a presença no Ensino Médio de jovens mais ricos é mais de duas vezes superior à presença dos mais pobres.
Os aspectos regionais também mostram desigualdades de acesso, especialmente se comparadas as regiões Sudeste e Norte. Na primeira, 60,5% dos jovens de 15 a 17 anos frequentam o Ensino Médio e, na segunda, apenas 39,1% o fazem. Também há desigualdade no acesso ao Ensino Médio entre brancos e negros. Enquanto 60,3% dos brancos de 15 a 17 anos de idade frequentam a escola, entre a população negra, essa taxa cai para 43,5% dos jovens. Assim, os negros, independentemente da origem de classe, estão em desvantagem em relação aos brancos.
Observe a tabela abaixo.
Analisando os dados da tabela acima, notamos que a taxa de analfabetismo é menor entre os grupos de menor faixa etária, o que pode ser considerado um avanço para as novas gerações. Contudo, a situação de frequência na educação básica ainda é um desafio a ser enfrentado por essa parcela da população. Impressiona o número de jovens entre 15 e 17 anos que estão fora da escola, o índice é de 15,9%, o que corresponde ao total de 1.635.573 de jovens fora da escola. Talvez esse seja o maior desafio da escola: como garantir escola para todos os jovens brasileiros? Você já pensou nisso: como trazer para o ambiente escolar os jovens que estão fora da escola no seu bairro, na sua cidade? Como fazer para que os jovens não abandonem tanto a escola?
Buscando compreender os motivos do abandono da escola, a Fundação Getúlio Vargas (2009) realizou uma investigação com a população entre 15 e 17 anos de idade, a partir do seguinte questionamento: o que leva um jovem a sair da escola? Segundo o levantamento realizado, as causas citadas foram: falta de interesse para 40,29%, falta de renda para 27,09%, ausência de oferta para 10,89 %, e, para 21,73% dos pesquisados, os motivos para o abandono são outros. Chama a atenção nesta pesquisa o grande número de jovens que disseram ter abandonado o Ensino Médio por falta de interesse. A princípio, podemos pensar que o problema é do jovem aluno, mas será que é mesmo? Ou será que é a escola que não tem conseguido envolvê-lo, que não tem ajudado na construção de um sentido para os seus estudos? Tudo isso nos leva a questionar como tem se dado a relação entre os jovens e a instituição escolar e o que causa essa falta de interesse por parte daqueles que abandonam seus estudos.
No Brasil, a expansão do Ensino Médio a partir dos anos 90 se deu em um contexto de desemprego e incertezas quanto ao futuro. Isso tem impacto nas relações dos jovens com a escola. Os jovens confiam na escola e esperam que ela tenha um impacto positivo nos seus projetos de futuro. Ao mesmo tempo, eles também sabem que a certificação escolar não é suficiente para garantir sua mobilidade social. O jovem aluno fica dividido entre valorizar o estudo como “promessa” e a falta de sentido do presente. Esse conflito pode explicar algumas posturas de jovens alunos, como abandono, recusa à participação ou mesmo a indisciplina. Outros jovens alunos tendem a ter uma relação instrumental com o conhecimento escolar e com a própria escola. Significa dizer que, para esses, a escola e o estudo perdem sua significância, ou seja, se não faz sentido estudar, estuda-se apenas para conseguir a aprovação.
Nesse sentido, podemos questionar de que maneira a escola tem se colocado na vida dos jovens estudantes. Quais os sentidos e significados que os jovens atribuem à escola? Os jovens conseguem dialogar com essa instituição, expondo as suas demandas e necessidades? A escola contribui para a elaboração de seus projetos de futuro?