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As transformações sociais e o papel da escola

Para iniciar nossa conversa sobre este assunto, comecemos por olhar à nossa volta. Se você estiver agora em casa, em sua escola, numa lan house, dê uma olhada no que está acontecendo: o que mudou no mundo desde quando você era criança até agora? Que coisas você tem na sua casa que não tinha antes?  Comece a observar pelos móveis, eletrodomésticos, eletrônicos, telefones... essas coisas que a gente usa.

Agora, por exemplo, você está diante de um computador, estudando em uma sala de aula virtual. Desde quando isso é possível?

E o que mudou nas relações familiares? Esposo, esposa, companheiro/a, filhos... como vocês se relacionam hoje? O que mudou nisso tudo? Qual a relação entre essas mudanças na sociedade, no mundo e na escola?

Essas mudanças são o que nós costumamos chamar de transformações sociais. Podemos dizer que as transformações sociais são alterações, modificações, evoluções, que se sucedem nas estruturas básicas da nossa sociedade. Há todo tipo de transformações: políticas, econômicas, culturais, demográficas, das condições de trabalho... E essas mudanças afetam a vida de todas as pessoas (ricos, pobres, negros, brancos, indígenas, homens, mulheres…). Hoje em dia, podemos dizer que vivemos em um momento de profundas transformações sociais que estão acontecendo à nossa volta, no nosso cotidiano: são as mudanças tecnológicas, as mudanças nas formas de produção, são as mudanças nas formas de comunicação e interação entre as pessoas, dentre outras transformações, tudo isso ocorrendo numa grande velocidade.  Isso quer dizer que, quando as relações, os processos e as estruturas econômicas, políticas, demográficas, geográficas, históricas, culturais e sociais se modificam, muda também nosso comportamento, nosso modo de pensar, de sentir e de ver a realidade.

Mas qual é a relação entre educação e transformação social? E o que essas transformações sociais têm a ver com a escola?

A escola é uma instituição social inventada por nossa sociedade. E ela mesma é fruto das alterações que ocorreram nos séculos XVIII, XIX e XX. A expectativa era (e ainda é) de que a escola fosse capaz de socializar, instruir e preparar as pessoas para viver em sociedade.

Esse foi o projeto de escola de uma época que costumamos chamar de modernidade. Para alguns, deu muito certo. Era um modelo de escola baseado na capacidade individual, ou seja, quem tinha sucesso na escola era porque era bom, inteligente, esforçado, e o sucesso na escola resultaria em melhoria nas condições de vida. Quem não fosse bom na escola era incompetente, incapaz e a escola nada poderia fazer para melhorar seu desempenho.

Muita gente questionou esse modelo de educação e de escola. Questionou-se principalmente o fato de que, no final das contas, somente uns poucos chegavam a uma escolaridade mais longa. A maioria das pessoas ficava no meio do caminho. Em outros casos, como no contexto das classes de trabalhadores, as pessoas eram levadas a acreditar que o ensino fundamental era o ponto final da trajetória de estudos, já que a continuidade dos estudos era para poucos, que poderiam sustentar toda uma trajetória como estudante e, só ao final dessa trajetória, iniciar a vida de trabalho. Ao mesmo tempo, não havia vagas em escolas públicas para todos que quisessem estudar, principalmente no chamado “ginásio” (que corresponde hoje à nossa segunda etapa do fundamental) e muito menos no “científico” ou “secundário” (equivalente ao nosso atual ensino médio). Ensino Superior nem se fala, o vestibular era ainda mais difícil de passar. Tudo isso diminuía ainda mais as chances da maioria das crianças e jovens construir uma trajetória escolar de sucesso.

Pense um pouco em como era difícil para sua família estudar. Pergunte aos seus jovens alunos quantas pessoas de suas famílias conseguiram concluir o Ensino Médio e fazer curso superior.

Pois então, os questionamentos feitos por muitas pessoas (pesquisadores, famílias, movimentos sociais, lideranças sociais e políticas) provocaram uma abertura da escola aos mais pobres, a um público muito diferente daquele que até então frequentava esta instituição.

Esses “novos sujeitos” que agora frequentam a escola estão muito próximos de você. Convivem com você quase todos os dias. Você já se perguntou sobre o que eles pensam da escola?  Qual será o sentido que eles atribuem ao ensino médio? Será que é parecido com o que você pensa? Ou será muito diferente?  Com certeza, vários dos seus jovens alunos devem estar se perguntando:

O que eu estou fazendo aqui? Para que serve cursar o Ensino Médio? O que eu vou fazer com isso?

O vídeo que sugerimos abaixo é uma reportagem sobre o Ensino Médio no Brasil. Vale a pena assistir.

 
 

Na década de 1990, as escolas públicas foram reconfiguradas a fim de suprir a demanda do Ensino Médio. No entanto, o aumento de vagas não foi acompanhado por qualidade no ensino. A proposta da série é discutir os sentidos do Ensino Médio nesse contexto. O vídeo selecionado debate a forma como se configura o universo escolar, que, para muitos jovens, consiste em uma ambiguidade caracterizada pela valorização do estudo como uma promessa futura no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, pelo suprimento da falta de sentido no presente.

Para assistir ao vídeo clique AQUI.

 
 

Você gostou? Qual a parte que mais lhe interessou? Na primeira parte do vídeo, são os jovens alunos que falam da escola e do Ensino Médio. Eles falam da importância dos conhecimentos aprendidos nessa etapa da educação e como isso muda a vida deles. Falam também de como a escola possibilita conhecer a si mesmo e conviver com outras pessoas, ou seja, falam da escola como espaço de sociabilidade.

Para os jovens alunos, assim como para a toda a sociedade, a família e a escola são dois espaços fundamentais de aprendizado de saberes e de socialização. Também o trabalho e a mídia compartilham com a família e a escola essa tarefa educativa, tarefa cada vez mais complexa. A família mudou, as relações com o mundo do trabalho mudaram e a mídia tem alterado profundamente nossas relações cotidianas. Até a escola mudou!

Já que chegamos até aqui, vamos procurar entender um pouco mais das transformações que vieram ocorrendo no Ensino Médio nos últimos anos, até para entendermos melhor os desafios que estão sendo enfrentados hoje em dia.