Seguindo as trilhas

Aqui você tem acesso a todos os "Seguindo as trilhas" desta unidade, isto é, os relatos de experiências de escolas, municípios, ONGs que têm desenvolvido projetos de educação integral, revelando seus avanços, dificuldades e desafios no processo.

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Para ampliar as discussões sobre diversidade, educação e educação integral, sugerimos a visita aos sites:

1- Unidade na Diversidade: http://www.unidadenadiversidade.org.br

O Portal Unidade na Diversidade nasceu do esforço conjunto entre o UNICEF, a Comunidade Bahá'í do Brasil, o Geledés - Instituto da Mulher Negra e o Fórum Nacional de Educação em Direitos Humanos, contando com o apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD. Seu objetivo é oferecer à comunidade educacional brasileira orientações e material didático que contemplem questões de preconceito e de discriminação, baseados no gênero, na raça e na etnia. O site proporciona, também, espaço para envio de sugestões; um fórum para troca de troca de idéias e uma seção exclusiva para envio de projetos e de atividades desenvolvidos nas escolas.

2- Pensar e Agir com a cultura: http://www.pensareagircomacultura.com.br

O Pensar e Agir com a Cultura é um programa de trabalho realizado por uma rede colaborativa de professores, pesquisadores, gestores e consultores e que articula formação e informação nas áreas da gestão e da diversidade cultural. No site, além de encontrarmos notícias e uma agenda eventos em Minas Gerais voltados para a dimensão cultural, é possível se inscrever em oficinas, cursos e seminários que contemplam essa temática.


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Sociabilidade on-line: experiências de jovens em Nova Contagem

por Juliana Batista

Esse relato é fruto da minha pesquisa de mestrado realizada entre 2006 e 2008. Gostaria de compartilhar uma “novidade” que pude perceber nas vivências dos jovens daquele bairro.

Desde a primeira vez que estive em Nova Contagem na intenção de observar a tão comentada feira que acontece ali aos finais de semana, percebi uma grande presença e movimentação de moradores. Estava na elevação da rua de onde nasce a feira e quando olhei de cima para aquele acontecimento era um colorido, um colorido apenas. Combinação das cores das lonas que cobrem as barracas com o realce e luminosidade que se estende entre as pessoas que se movimentam. Podia ver um todo, a feira na rua, uma tela cheia de cor enquadrada pelo contorno das outras duas ruas transversais que a emolduram. No entanto, diante daquele todo era só deslocar meu olhar e via as unidades que o constituíam. Fitava em uma ou outra pessoa e acompanhava seus passos, paradas, ritmos, movimento.

Na convivência com os moradores percebia a centralidade do bairro como espaço nuclear de vivências. Adultos, crianças, jovens e velhos se encontram na feira e uma série de atividades, para além da compra e venda, se dão neste espaço de vivência. Nos dias de semana, e especialmente aos sábados e domingos via muita gente nas ruas, calçadas e praças do bairro, sobretudo crianças e jovens, caminhando e conversando em grupos ou simplesmente sentados nos passeios.
A rua não está em oposição rígida à casa, mas parece inclusive ser casa, local de encontro e acolhimento.“Aqui é o point” definiu um menino, sintetizando aquele ponto de encontro de todos, espaço público que abriga distintos moradores de Nova Contagem. “É onde se vê todo mundo, você encontra todo mundo”. Porém, permanecer e caminhar por essa rua me fez chegar a um lugar que aglutinava essencialmente jovens e crianças.

Em um dia de feira passeava pelas ruas em seu entorno e em uma bem próxima à agitação da feira pude avistar uma movimentação de jovens perto de uma padaria. Ali, no segundo andar funciona uma lan house e a circulação e permanência de meninos e meninas em frente àquele estabelecimento era digna de apreço.

Cheguei aquele espaço pelo clima de encontro, descontração e fruição na porta do local e, menos interessada em observar simplesmente usos da Internet. Para além da porta e da escadaria que nos leva à lan, o ambiente de espera é também marcado por certa agitação e conversas entre os que aguardam um computador e mesmo entre os funcionários. Vê-se um ambiente configurado por múltiplas interações e conversas, “a gente firmou aqui manter um ambiente familiar (...), a gente tenta manter uma disciplina e um ambiente familiar”, é o que nos diz um dos funcionários que descreve bem esse ambiente regrado e ao mesmo tempo marcado por uma intensa sociabilidade. Com a palavra “sociabilidade” quero dizer do encontro, convivência e relações de amizade entre os jovens.

Na sala da lan os computadores estão posicionados em três fileiras, duas delas estão frente a frente com quatro computadores cada, e a terceira de frente para uma parede. Nesta distribuição espacial vêem-se, com freqüência, usuários comunicando entre si, seja com os que estão dos lados ou à frente. Muitos ficam juntos em um só computador ou circulam entre eles.

Há certo padrão na utilização da Internet, que constatei nas observações e entrevistas com jovens e funcionários. A grande maioria de jovens e crianças que ali freqüentam fazem uso mais intenso e habitual do messenger e Orkut, “Você pode notar, 90% das pessoas que vem aqui eles... primeira coisa que eles vão fazer, ver o Orkut deles, ler os recados, os scraps que estão lá, mandar e enviar recado, depois é entrar no messenger, quem tá on- line vai conversar com quem tá on- line, se tiver e-mail eles vão responder o e-mail”, relata um funcionário. Os diálogos travados pela Internet, especialmente pelo MSN, são uma das ações mais costumeiras entre aqueles meninos e meninas, foi raro nas observações não ver alguém se comunicando pelas caixas de diálogo desse programa. “Todo mundo que vem na lan house tem MSN, se não tem vai querer logo fazer um, conversar é o que mais fazem aqui”.

Percebi a lan house como espaço muito oportuno para os encontros juvenis. Embora haja uma fluidez, dinamicidade e rotatividade dos usuários e dos usos que fazem da Internet naquele local, a lan é um lugar significativo da construção de uma malha de relações e vínculos juvenis. Merece consideração o envolvimento on-line entre sujeitos que vivem em uma mesma localidade, dado que sugere uma estreita combinação entre as relações on-line e as interações face a face, “(...) no meu orkut mesmo tem muita gente só de Nova Contagem, Vila Esperança, daqui. Final de semana fica todo mundo on line pra conversar.” A Internet favorece e auxilia o os laços de sociabilidade entre muitos jovens, ela é mais uma via que propicia e antes ainda, facilita o encontro, ou a “liberdade de se prender”.

Observar e acompanhar um pouco da dinâmica desse bairro foi essencial para que eu percebesse sua multiplicidade. Estar em Nova Contagem me permitiu escapar de idéiasmarcadas pela visão da violência, criminalidade, desordem ou miséria dessa região. Por isso, precisamos olhar para os jovens e as crianças, suas relações de amizade, seus jogos e brincadeiras com um olhar mais atento. Precisamos perceber que eles têm muito a nos ensinar sobre suas convivências e regras. Quando nos aproximamos deles, certamente veremos novidades. A minha surpresa de perceber a Internet e a tecnologia na rotina dos jovens em Nova Contagem, revela o quanto precisamos estar próximos dos meninos e meninas nos diversos espaços em que circulam. Um fato inesperado, como foi minha chegada na lan house, pode manifestar a possibilidade de diálogos e trocas que muito contribuem no trabalho com esses sujeitos.