Seguindo a Trilha de Santarém (PA)
Arte na Escola da Gente
O projeto Arte na Escola da Gente tem como objetivo “tornar a escola um espaço aberto à comunidade visando a promoção da Cultura da Paz na Rede Municipal de Ensino através de linguagens artísticas como a dança, o teatro, a música, as artes plásticas, a poesia, a literatura infantil, dentre outros, entrelaçando família, escola e comunidade” (www.santarem.pa.gov.br acessado em 01/04/2010) .
O projeto nasceu da experiência do projeto “Arte na Escola”, que foi implantado com apoio de um grupo de voluntários na Rede Municipal, em 2005. O projeto acontecia em diversos espaços e aos poucos foi sendo reconhecido pelas famílias e pelos professores. Funcionava nas escolas no contra-turno ou nas comunidades. Quando não havia lugar na escola utilizava-se uma Associação de Moradores, a Igreja, ou o barracão comunitário, sempre em parceria com a comunidade.
Quando o projeto foi assumido pela secretaria foram contratados artistas plásticos e pedagogos. Implantaram-se também as caravanas de arte para a zona rural, com oficinas de mosaico, violão, teclado, artesanato, cerâmica, dança contemporânea, regional, artes plásticas, arte têxtil, canto e coral. A secretária de educação em entrevista para a pesquisa Educação integral/educação integrada e(m) tempo integral: concepções e práticas na educação brasileira a secretária afirmou que através desse trabalho a equipe da secretaria começou a conhecer muitas famílias, que ficavam impressionadas com o reflexo do trabalho na vida da criança.
A equipe de arte educadores
Para atingir seus objetivos, o Arte na Escola da Gente trabalha com atividades artísticas de naturezas diversas. E, para tanto, conta com uma equipe de coordenadores e arte-educadores, que, em 2009, chegou a um total de 30 (trinta) sujeitos, entre os quais 6 (seis) estavam em cargos de coordenação. São eles, em geral, pessoas com grande experiência no campo artístico em que atuam e há entre eles uma característica de identificação e militância em relação aos objetivos do projeto. É o que revelam os depoimentos a seguir:
(...) vejo que temos uma coisa comum a todos nós, fazemos parte de um movimento artístico, mas também que quando a gente começa a trabalhar com arte na escola e nós repassamos aquilo que nós fazemos para eles, a nossa arte, e a gente vê a dedicação das crianças, a mudança dessas crianças na escola de reconhecimento de cada um (...). E a gente percebe que cada arte educador trabalha com orgulho de estar ali, com prazer de estar ali com as suas crianças.
Quando a gente vê o resultado nas apresentações das nossas crianças, o que cada criança passa e a oportunidade que têm essas crianças, a felicidade e carinho entre criança e educador, e o que cada educador e a coordenação que está aí, é uma dedicação muito forte que nós temos. É isso.
(Arte educadora; depoimento à pesquisa Educação integral/educação integrada e(m) tempo integral: concepções e práticas na educação brasileira)
A respeito da seleção desses sujeitos, anualmente, a SEMED recolhe currículos que são avaliados, considerando tanto a trajetória dos candidatos no campo artístico, quanto sua experiência em docência. A partir de então, os selecionados são contratados em um regime de trabalho de vinte horas semanais, que são distribuídas entre três e quatro horas diárias, no primeiro caso, trabalhando aos fins de semana e no segundo não. Os contratos têm duração de um, mas, quase sempre, depois de passado um ano, os mesmos arte-educadores são recontratados novamente contratados.
No que tange à formação desses sujeitos para o trabalho, quando de seu ingresso, é ofertada uma formação e, no decorrer do ano, eles passam a ser acompanhados e avaliados por meio de reuniões periódicas, prática repetida ao final do contrato, já que os resultados serão norteadores do planejamento do ano que se segue.
As caravanas
O projeto Arte na Escola da Gente desenvolve suas atividades através de oficinas nas escolas da área urbana e de caravanas nas escolas das regiões de Rios e de Planalto. As Caravanas apresentam uma proposta incomum de organização e que demonstra estreita relação com o território constituindo-se em uma proposta para as comunidades ribeirinhas e rurais de Santarém. Apesar de acontecer de forma esporádica, ela tem uma abrangência maior, atingindo todos os estudantes, sendo também aberta à comunidade.
No caso das caravanas, o tempo de duração é de três dias e em geral são realizadas aos fins de semana. Há também as mini-caravanas, que têm a duração de um dia apenas.
A respeito da dinâmica de funcionamento, todos os arte-educadores são reunidos e deslocados para a região escolhida, onde desenvolvem suas oficinas em uma escola pólo, ou seja, uma instituição escolhida em uma determinada região, mas podendo atender também a alunos de outras localidades.
A pesquisa Educação integral/educação integrada e(m) tempo integral: concepções e práticas na educação brasileira traz um relato retirado de caderno de campo, que retrata a experiência:
No sábado, o horário agendando para partida, em frente à SEMED, foi às sete horas da manhã, alguns chegaram pontualmente, outros não, mas todos precisaram aguardar a chegada do ônibus. Assim que estacionado, iniciou-se o carregamento dos materiais tanto aqueles para realização das oficinas quanto alimentos. Chegamos à escola onde haviam muitos alunos de idades variadas, da educação infantil aos últimos anos do Ensino Fundamental, além de pais e comunidade – constituindo-se, portanto uma experiência valiosa tanto para observação, quanto para dialogar com esses sujeitos.
Logo os arte-educadores ocuparam as salas e os alunos, que haviam se inscrito anteriormente nas oficinas, foram direcionados para as atividades. Um primeiro fator a ser destacado nesse sentido é a visível maior adesão dos alunos por algumas atividades em detrimento de outras, como é o caso das oficinas de artes plásticas em relação às de música, mais precisamente canto-coral. Assim, havia duas salas visivelmente cheias realizando a primeira atividade e apenas um pequeno grupo na segunda.
As atividades estenderam-se até o fim da manhã quando os alunos retornaram para suas casas para que pudessem almoçar. Por volta das 14 (quatorze) horas retornaram para retomarem as atividades e ao fim da tarde todos os grupos apresentaram suas produções que corresponderam a: exposição das esculturas em argila e painéis produzidos nas oficinas de artes plásticas, teatro, dança e canto desenvolvidos em suas respectivas oficinas.
O tempo das oficinas era ditado pelo ritmo de cada atividade, não se configurando como uma imposição. Quando os alunos terminavam sua atividade, não eram obrigados a permanecer no espaço determinado e, no intervalo do almoço, cada oficina liberava os alunos no fim dos trabalhos.
Destacaram-se nessa experiência a presença e a participação efetiva da comunidade, marcada por pais e moradores das redondezas dos locais em que se realizavam as oficinas.
O projeto também realiza atividades na cidade, entre elas, as Mostras Culturais promovidas a cada semestre em espaços abertos, em geral, praças, com o objetivo de divulgar os trabalhos desenvolvidos nas oficinas. Além dês tais mostras, há o Festival de Interpretação Musical, evento anual que seleciona aqueles que se destacam nas oficinas de música. E, por fim, os alunos das oficinas apresentam-se em outros eventos que ocorrem no município. Todas essas atividades fazem com que o Projeto Arte na Escola da Gente saia dos muros da escola e ocupe o espaço da cidade.