A dimensão educadora que há em nossa cidade
Vamos conhecer a cidade que moramos? Conhecer suas dimensões educativas?
Metrópole, interior, centro, bairro, periferia, favela, morro, subúrbio, vila, condomínio, aglomerado, roça, comunidade, gueto. Jovens, adolescentes, trabalhadores, estudantes, favelados, tribos, crianças, manos, minas, velhos, adultos. Todas essas palavras identificam lugares e sujeitos que são hoje alvo de várias pesquisas e ações políticas. Essa pluralidade de nomes/conceitos indica uma multiplicidade de maneiras de apreensão da dinâmica das cidades focalizada nos espaços, nas práticas, nas sociabilidades, nas vivências e nas representações de seus moradores.
O espaço é, antes de tudo, produto de uma cultura, na medida em que não há um "mundo natural", ou seja, os diferentes espaços da nossa cidade são produtos das relações humanas, fruto dos fenômenos culturais e sociais. Em outras palavras, o espaço é produto das esferas econômica, política, social, cultural e ideológica.
São os atores sociais que transformam os espaços físicos em lugar, por meio da produção de estilos com estruturas particulares de significados, os quais envolvem memória, sentimento de pertença e afirmação coletiva. O espaço (lugar) é condição necessária para a construção de identidades grupais e individuais com e na cidade. Nesse sentido, o espaço público possui uma dimensão socializadora para muitos cidadãos que se apropriam dele para encontros, interações afetivas ou mesmo como palco para a expressão da cultura que elaboram. Dessa forma, muitos sujeitos colocam na cena pública marcas identitárias e saberes sobre a cidade, às vezes considerados marginais ou ilegais. Ao mesmo tempo, as ressignificações nos usos dos espaços e dos equipamentos públicos configuram relações de proximidade e de distância entre os sujeitos, possibilitando competições entre grupos sociais que podem levar a novas segregações do espaço citadino.
O Brasil é um país com uma rede urbana extremamente complexa e diversificada, com cidades das mais diferentes escalas populacionais. No entanto, as diferentes regiões - metropolitanas, cidades médias ou rurais - muitas vezes podem ficar a mercê das políticas localistas, as quais insistem em não reconhecer a dinâmica dos seus cidadãos em lugares da cidade. É preciso compreender as práticas sociais para integrar as políticas públicas. Os circuitos culturais da juventude são um exemplo da apropriação de espaços metropolitanos. Mas esse fluxo não se faz sem conflitos e sem batalhas. O custo do transporte, ou a ausência dele; a concentração dos equipamentos culturais e de lazer; os territórios proibidos, sejam os da riqueza, sejam os da pobreza; tudo isso evidencia outras fronteiras.
Explorando territórios Vamos localizar as diversas dimensões da cidade: da cultura, do lazer, do acesso aos espaços públicos, do direito de ir e vir, do direito à vida, enfim, dos direitos civis clássicos aos novos direitos. Pretendemos, portanto, refletir sobre as possibilidades de gestão democrática e participativa da cidade, conjecturadas em experiências concretas. Quais as dimensões de sua cidade, do seu bairro, da sua rua, do entorno da sua escola? Atente o olhar, percorra o que cotidianamente é visto e descreva o que há de educativo ao seu redor. |
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Seguindo trilhas Às vezes, o tradicional, aquilo que vemos cotidianamente e que, por isso, se torna invisível para nós, guarda dimensões educativas por nós desconhecidas. Por isso, é necessário apurar o olhar, ver o que se encontra ao nosso redor. A Maré tem em torno de 132 000 moradores e é um dos maiores adensamentos urbanos da cidade do Rio. E é lá que acontece a Feira da Teixeira, um dos locais de encontro e de socialização das pessoas que ali moram. A feira tem esse nome porque fica na Rua Teixeira Ribeiro no bairro Parque Maré. Mas no dia da feira, sábado, espaços, lugares e tempos são apropriados não apenas pelos vendedores e compradores que se encontram para estabelecer relações comerciais. Ali, jovens, crianças, adultos, homens, mulheres se encontram e estabelecem relações. Reconhecem-se como sujeitos de suas práticas sociais e como cidadãos, como alguém que vive numa cidade e nela circula ao estabelecer o acesso a seus bens materiais e simbólicos. Como nos diz Fernando Pessoa, poeta português, no poema “Chuva Oblíqua”:
Mas há cidades dentro da cidade, há tensões entre ser da favela e não-ser da favela. Há marcas elaboradas pela cidade legal e que identificam os moradores como favelados e contramarcas identitárias elaboradas pelos moradores para ressignificarem sua trajetória e sua inserção social. Há, ainda,as marcas migratórias e as histórias de cada um no interior da mobilidade urbana. E tudo isso se faz sentir na Feira da Teixeira, na rua, entre compras e encontros dos moradores. É como um dos depoentes diz: “a feira é de utilidade pública” em vídeo intitulado “Feira da Teixeira”, produzido pela Escola de Comunicação Crítica do Observatório de Favelas. |
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Flashes de viagem Veja o vídeo, perceba a diversidade de pessoas, locais, atividades, interesses que circulam na Teixeira e a faz ser mais do que uma rua e mais do que um comércio: |
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Ultrapassando fronteiras A cidade é também apropriada pelos adolescentes/jovens em diferentes condições, espaços, situações... No vídeo temos um grupo de jovens na Praça dos Pioneiros em Governador Valadares. Eles são b-boys, dançarinos de um estilo de dança de rua do Hip-Hop. A dança é conhecida como break. Além da apropriação dessa praça pelos jovens, é possível refletir como o espaço da cidade está também conectado ao ciberespaço (a internet). Veja também a roda de conversa (clique aqui para assistir) em que professores do TEIA refletem sobre os limites e possibilidades dos Espaços Educativos. |
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Seguindo trilhas O Observatório de Favelas O Observatório de Favelas é uma organização social de pesquisa, de consultoria e de ação pública dedicada à produção do conhecimento e de proposições políticas sobre as favelas e fenômenos urbanos. O Observatório busca afirmar uma agenda de Direitos à Cidade, fundamentada na ressignificação das favelas, também no âmbito das políticas públicas. Criado em 2001, o Observatório de Favelas é, desde 2003, uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sediada na Maré, no Rio de Janeiro, mas com atuação nacional. Foi fundado e é composto por pesquisadores e profissionais oriundos de espaços populares. O Observatório tem como missão a elaboração de conceitos, projetos, programas e práticas que contribuam na formulação e na avaliação de políticas públicas voltadas para a superação das desigualdades sociais. Para serem efetivas, tais políticas têm de se pautar pela expansão dos direitos, por uma cidadania plena e pela garantia dos direitos humanos nos espaços populares. Visite o site do Observatório de Favelas em que se encontram o vídeo aqui postado, além de textos, publicações, fotos e imagens. (Texto retirado do site da organização.) |
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Ultrapassando fronteiras “Cultura Urbana e Educação” é a temática de uma das edições do Programa Salto para o Futuro que pretende evidenciar estratégias dos grupos que desenvolvem ações culturais na cidade, buscando os reflexos dessas práticas na educação formal e não-formal. Nesse contexto, extrapola-se o ponto de vista da cultura como representação e passa-se a entendê-la a partir de estratégias e procedimentos que impulsionam processos continuados de ações criativas que reforçam laços de sociabilidade, permitindo reinventar a cidade. Os textos que compõem a publicação eletrônica Cultura urbana e educação, bem como a série televisiva, têm como proposta construir pontes entre os espaços/territórios que nas cidades são palcos de expressões culturais diversas e as escolas, potencializando a relação educação, cultura e cidadania.
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Compartilhando impressões de viagem Escolha um espaço da sua cidade (feiras, ruas, mercados, esquinas, comércios, praças, etc), e caracterize-o buscando analisar os potenciais educativos existentes. Vá até o fórum "Possibilidades educativas na cidade" e faça um comentário relacionando essas potencialidades ao seu trabalho. Caso queira, você poderá compartilhar conosco uma foto/imagem desse lugar. |
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Ultrapassando fronteiras Guia Cultural de Governador Valadares “Os dados apresentados nesse guia são fruto de vasto trabalho de campo realizado entre 2009 e 2010, tendo como foco oito comunidades da cidade de Governador Valadares. Ele pretende ser um primeiro volume de uma série, cuja continuidade visará abranger outros bairros da cidade. As informações que vocês verão nas próximas páginas buscam descortinar um olhar sobre a cultura das comunidades de Governador Valadares, tendo início a partir de oito delas: Carapina, Nossa Senhora das Graças, Planalto, Querosene, Santa Efigênia, Santa Helena, Santa Terezinha e São Tarcísio. O mapeamento do patrimônio imaterial encontrado nessas comunidades apresentasse como oportunidade ímpar não somente para o conhecimento da realidade local, mas também, e principalmente, para o fortalecimento e divulgação dos artistas residentes nessas comunidades, que tantas dificuldades enfrentam para desenvolver sua arte com qualidade”. |
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