Curso Educação Integral e Integrada

A formação de Redes Sociais

Atores sociais e ações coletivas: o movimento do território

Nos anos 1980, a ação intensa dos movimentos sociais em torno de reivindicações de melhores condições de vida, de ampliação de canais de participação, do reconhecimento de identidades e contra as formas de preconceito e discriminação ganharam a cena da política brasileira.

As análises sobre a ascendência dos novos movimentos sociais no Brasil no contexto dessa década indicam sua capacidade de desencadear ressignificações nas relações sociais do país e assinalam que grupos chamados minoritários reconheciam sua posição de subalternidade e elaboravam mecanismos de contraposição a essa situação. As lutas contínuas contra projetos dominantes expandiram as fronteiras da política institucional e denotaram a construção da democracia como processo descontínuo no qual se redefiniram as noções convencionais de cidadania e de participação. Sobre esse aspecto, Miguel ARROYO (1997, p. 25) afirma:

Os setores populares submetidos à rotina da reprodução da sobrevivência, fechados por décadas nesse estreito círculo das necessidades mais prementes, submetidos a um estilo de política clientelística, esses setores vão crescendo como membros de grupos, se associam, reivindicam, discutem politicamente suas condições de vida e buscam canais de representação na condução dos serviços e espaços públicos. Vão redefinindo a política clientelística. Pressionam por uma política de cidadania.

Nos anos de 1990, muitos grupos se constituíram como atores sociais que desenvolvem ações organizadas com populações específicas e ficaram conhecidas por Organizações não governamentais, também chamadas ONGs. Essas associações se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos, desenvolvem ações em diferentes áreas e, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da população para modificar determinados aspectos da sociedade.

É preciso constatar que o surgimento dessas organizações, sem fins lucrativos, que têm como objetivo o desenvolvimento de atividades de interesse público, se deu pelo motivo da ineficiência, por parte do poder público, para atender as necessidades da sociedade.

Betinho definia as organizações não governamentais da seguinte forma:

“uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia – liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. (...) As ONGs são comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática com que todos sonham”.

 
 

Hebert José de Souza, conhecido como Betinho, nasceu em Bocaiúva, Minas Gerais, em 1935. Sociólogo, foi um grande ativista na luta pelos direitos humanos no Brasil. Concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida. Foi um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). Betinho faleceu em 1997. Você pode conhecer mais sobre sua trajetória no site do IBASE.

 
 

Sabemos que a presença das ONGs no cenário político brasileiro não é algo simples e sem tensões. Mas o que nos interessa aqui é a emergência de sujeitos políticos e movimentos sociais que buscam alternativas de desenvolvimento ambientalmente sustentáveis e lutam contra as desigualdades sociais e pela universalização e construção de novos direitos. A presença desses atores sociais no território deve chamar nossa atenção.

Revelamos aqui um retrato dessa forma de atuação no território:

 
 

Seguindo trilhas

Visita guiada ao site do Afroreggae www.afroreggae.org.br

Antes de iniciar a visita ao site do Afroreggae, tente se lembrar, recolher ou pesquisar notícias sobre essa organização veiculadas na mídia.

PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL E A JUSTIÇA SOCIAL ATRAVÉS DA ARTE: DE ARMAS A TAMBORES

Fundado em 21 de janeiro de 1993, o Grupo Cultural AfroReggae foi criado para transformar a realidade de jovens moradores de favelas utilizando a educação, a arte e a cultura como instrumentos de inserção social. O embrião do projeto foi o jornal AfroReggae Notícias, cuja primeira edição circulou em agosto de 1992. O informativo – distribuído gratuitamente e sem anunciantes – logo se tornou um canal aberto para o debate de idéias e de problemas que afetam a vida de negros e pobres.

Em 29 de agosto daquele mesmo ano, ocorreu a Chacina de Vigário Geral, na qual 21 moradores inocentes foram assassinados. Um mês depois, os produtores do AfroReggae Notícias chegaram à favela de Vigário Geral oferecendo oficinas de percussão, capoeira, reciclagem de lixo e dança afro para os moradores dali.

Desde então, o Grupo Cultural AfroReggae investe no potencial de jovens favelados, levando educação, cultura e arte a territórios marcados pela violência policial e pelo narcotráfico. Ao longo de seus 17 anos (que foram completados no dia 21 de janeiro de 2010), o AfroReggae vem utilizando atividades artísticas, como percussão, circo, grafite, teatro e dança para tentar diminuir os abismos que separam negros e brancos, ricos e pobres, a favela e o asfalto, a fim de criar pontes de união entre os diferentes segmentos da sociedade.

Ao entrar no site, inicie seu trajeto pelo Manifesto Afroreggae localizado na barra Quem somos nós. Nesse espaço você poderá conferir a atuação da ONG: em que espaços a ONG atua? Por que atua nesses espaços? Quais são as atividades desenvolvidas? Assista também ao vídeo institucional.

Você poderá entrar em cada um dos espaços onde a ONG desenvolve atividades e conferir como se organizam. Observe que, em cada território, desenvolvem-se atividades distintas e articuladas com outras organizações. Por exemplo, no Complexo da Maré, a atuação é compartilhada com o Observatório de Favelas.

Confira, na barra lateral esquerda, o Orgulho de ser o que é. Leia os depoimentos.

 
 
 
 

Ultrapassando fronteiras

Observe que a tônica das ações desenvolvidas pelo Afroreggae é a cultura e a educação. Reflita e/ou converse com pessoas próximas sobre o conteúdo e o formato das ações desenvolvidas pelo Afroreggae.

Outro movimento, ainda recente, com características semelhantes ao anterior é o OKUPA. Trata-se de uma promoção do Observatório da Juventude da UFMG, em parceria com vários movimentos juvenis da cidade de Belo Horizonte, com a proposta de criar um espaço de debates sobre a cidade e seus jovens, contribuindo para formar opiniões e construir, no diálogo entre diferentes, uma agenda comum de reivindicações que atendam aos justos anseios dos jovens por uma cidade mais democrática. Acesse o link e conheça um pouco mais: http://www.okupa.concatena.org/?p=67

Se, como nos indicou Miguel Arroyo, podemos aprender com os movimentos e organizações sociais, o que o Afroreggae nos ensina?

 
 
 
 

Flashes de viagem

O uso e as concepções em torno do território, bem como a sua ressignificação foram elementos abordados no episódio ‘Correio’ da minissérie ‘Cidade dos Homens’ exibida pela Rede Globo de televisão. O episódio está disponível no youtube. Acesse e reflita sobre as discussões que temos empreendido neste módulo: http://www.youtube.com/watch?v=NPuL51MSdgU

 
 
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