Curso Educação Integral e Integrada

Guia de viagem

Os novos movimentos de organização dos tempos e espaços escolares: Ciclos de formação

No Brasil, vários movimentos de renovação pedagógica tiveram seu ápice em meados da década de 1990, visando qualificar o atendimento educacional, sobretudo nas escolas públicas. Algumas propostas educacionais passam a reorganizar os seus tempos e espaços, adotando os ciclos de formação, ancoradas em um discurso sobre a necessidade de se construir uma escola de direitos e voltada para a formação integral de seus sujeitos. Que propostas são essas? O que elas trazem de novidade?

A Escola Cidadã foi uma experiência que surgiu em Porto Alegre, em 1994, criada pela Secretaria Municipal de Educação. Para a implementação da reestruturação curricular, desencadeou-se um processo de discussão sobre a "escola que temos" e a "escola que queremos" por toda a comunidade escolar; constituída de quatro segmentos: pais, alunos, professores e funcionários. O objetivo de tais discussões foi conhecer quais eram, na perspectiva da comunidade escolar, os mais sérios entraves e quais eram os desejos e as suas aspirações em relação à escola. A partir daí, a proposta curricular teve como eixos norteadores

“a democratização da gestão da escola; princípios de convivência; concepção de currículo e conhecimento; avaliação” (MORAES, 2009)

A Secretaria formulou uma proposta curricular e apresentou-a às escolas, que poderiam, ou não, aderir a ela. Tal experiência passou por modificações constantes, mas se manteve como proposta político-pedagógica, até 2004, quando outro partido político assumiu a Administração Municipal da cidade do Rio de Janeiro.

A Escola Plural, implantada em 1995, na cidade de Belo Horizonte, aborda questões cruciais da prática educacional: uma nova visão de educação pública, um novo papel de escola e alunos como sujeitos de direitos. Essa proposta surge ancorada nas práticas desenvolvidas nas escolas do município que buscavam, desde o movimento de renovação pedagógica da década de 1980, rever os princípios, metodologias e critérios de avaliação que justificavam os processos de exclusão escolar e, dessa forma, pensar os direitos de inclusão e de proteção social a serem exercidos em todos os espaços estruturais do cotidiano. A Escola Plural apresenta, dentre seus eixos norteadores, a reorganização dos tempos e dos espaços escolares, a qual deve ser pensada em função de seus alunos. A discussão coletiva entre os profissionais, pais e alunos acerca das questões da escola possibilita que o aluno, ao ser considerado centro do processo educativo, tenha uma formação plena em todas as dimensões, isto é, as atitudes, os valores, os procedimentos e os conceitos das diversas áreas do conhecimento, sendo criadas, nesse processo, novas alternativas para a relação com o conhecimento na escola.

Também uma experiência educativa alternativa que adotou os ciclos de formação ocorreu durante a gestão de Cristovam Buarque (1997-2000), quando foi criada, em Brasília, a Escola Candanga. Esse projeto ofereceu oportunidades para a participação efetiva das famílias na escola, inclusive, proporcionando educação para pais e mães de baixa renda, procurando, dessa forma, estimular o desenvolvimento da comunidade como um todo.

Para Moraes (2009), o currículo da Escola Candanga amparava-se no princípio da reflexão, visando compreender a realidade aparente, como ela foi produzida histórica e socialmente, e quem seriam os agentes sociais que a transformariam. Além disso, pautava-se por uma perspectiva integradora, que procurava romper com a fragmentação do conhecimento e construir um ser humano ativo, com pensamento vinculado a um ambiente histórico e social. A proposta pretendia questionar a situação político social vigente, criticando, assim, as formas de poder. Em 2001, quando o governo de oposição assume o poder, a proposta deixa de orientar a política educacional do Distrito Federal.

Todas essas experiências pedagógicas que se configuraram como propostas alternativas de construção de políticas públicas em educação reconheceram o processo de ensino e de aprendizagem como um processo cultural, reorganizando os tempos e espaços escolares em função de seus alunos. A discussão coletiva entre os profissionais, pais e alunos acerca das questões da escola possibilitaram que o aluno, ao ser considerado centro do processo educativo, tivesse uma formação plena em todas as dimensões, isto é, as atitudes, os valores, os procedimentos e os conceitos das diversas áreas do conhecimento, sendo criadas, nesse processo, novas alternativas para a relação com o conhecimento na escola.

 
 

Ultrapassando fronteiras

A questão juvenil nos anos 90 e a “massificação” do ensino e permanência nos anos finais do ensino fundamental dos adolescentes.

As ideias que temos sobre juventude interferem diretamente na relação que estabelecemos com os jovens em diferentes espaços, incluindo a escola. Muitas vezes, no ambiente escolar, características dos jovens, suas formas de agir e de ver o mundo e lidar com as pessoas, são colocadas como problemas a serem resolvidos, como limites ao processo pedagógico. Com base em perspectivas desse tipo, somado a outros processos de natureza social e econômica mais amplos, a escola acaba por não criar um ambiente de acolhimento e envolvimento dos jovens, contribuindo para seu abandono por parte desse conjunto de sujeitos.

Para pensarmos sobre este tema há um episódio do programa “Nota 10”, divido em três links no final deste texto. Nele, são realizadas interessantes reflexões acerca das possibilidades de pensar a condição juvenil como aliada do processo pedagógico e não como um empecilho ao mesmo. O que está em jogo quando pensamos a relação entre escola e juventude? O que os jovens trazem para a escola? Quais são as identidades que eles constroem? Qual é a realidade que eles vivem fora da escola? Para quais aspectos nós, gestor@s, professor@s, oficineir@s, estagiári@s, agentes devemos estar atentos com vistas na promoção de umencontro mais interessante, rico e produtivo entre os jovens e a escola? Essas são algumas questões para as quais devemos dar a devida atenção e estar abertos a buscar, talvez não respostas prontas e acabadas, mas possíveis caminhos a seguir. Fica aqui o desafio!

Juventude -- Programa Nota 10 (Parte 1/3)

Juventude -- Programa Nota 10 (Parte 2/3)

Juventude -- Programa Nota 10 (Parte 3/3)

 
 

 

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