Curso Educação Integral e Integrada

Guia de viagem

A educação popular: contribuições de Paulo Freire

Desde o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Educação, em 1932, intensifica-se a defesa de uma educação popular, que já acenava para uma ampliação do sistema público de ensino, incorporada ao princípio da universalização da escola para todos. Além disso, já se percebia, no texto do Manifesto, a importância de se envidarem esforços coletivos entre os vários níveis de Governo, para a construção de uma escola voltada para os interesses da população, principalmente aquela marginalizada socialmente.

A partir da década de 1950, como parte das intensas mobilizações sociais e políticas reinantes no país, diversos movimentos articulados à educação e cultura foram criados e disseminados. Esse período é marcado pela construção de um ideal em torno da educação popular, advinda principalmente da ampliação das campanhas da Educação de Jovens e Adultos e do meio rural, realizadas no fim da década de 1950.

Como esse movimento ganha força e importância? A educação, entendida como um direito e caminho para incluir e integrar a população historicamente marginalizada dos processos sociais, políticos, econômicos e culturais, ganha um novo e importante fôlego no início da década de 1960. A proposta do que seria a Educação Popular começa a ser encaminhada em 1958, com o II Congresso Nacional de Educação de Adultos. No Seminário Regional de Pernambuco, que preparava para o Congresso, Paulo Freire, como relator do tema A educação dos adultos e as populações marginais: o problema dos mocambos, defendeu defendeu “a educação com o homem”, denunciando a então vigente “educação para o homem”. Ele defendeu a substituição da aula expositiva pela discussão, demonstrando preocupação com as metodologias e, principalmente, com o lugar social, político, educacional e de autoridade a ser assumido pelos educadores e educandos.

Em 1960, quando Miguel Arraes assume a prefeitura de Recife, convida intelectuais, sindicalistas e o povo em geral a se engajar em um movimento de divulgação cultural chamado Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP). O MCP tinha como objetivo realizar uma ação comunitária de educação popular, além de formar uma consciência política e social nos trabalhadores, preparando-os para uma efetiva participação na vida política do país. Paulo Freire foi um dos convidados e, no MCP, fez suas primeiras experiências no campo da alfabetização de adultos. No final de 1962, o MCP já contava com quase 20.000 alunos divididos em mais de seiscentas turmas, distribuídos entre duzentas escolas isoladas e grupos escolares; uma rede de escolas radiofônicas; um centro de artes plásticas e artesanato, com cursos de cerâmica, tapeçaria, tecelagem, cestaria, gravura e escultura; uma escola para motoristas-mecânicos; cinco praças de cultura, com bibliotecas, cinema, teatro, música, orientação pedagógica, recreação e educação física; um Centro de Cultura que oferecia cursos de corte e costura e alfabetização; círculos de cultura; uma galeria de arte e um grupo teatral.

 
 

Seguindo as Trilhas

Em 1960, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, desponta a Campanha de Pé no Chão também se Aprende a Ler, com o propósito de erradicar o analfabetismo na cidade. Assim, criam-se várias estratégias de ações na direção do propósito da Campanha. A criação de um Centro de Formação de Professores, em conjunto com centros e praças de cultura, assume a preparação do magistério municipal. A iniciação ao trabalho é assumida com a Campanha de Pé no Chão também se Aprende uma Profissão. Para Moacyr de Góes, Secretário Municipal de Educação de Natal, à época, a educação não ocorre apenas nos prédios escolares, surgindo as bibliotecas populares e programações diárias em rádios locais. Ao desvelar que a escola não é o prédio escolar, ensinou-se a crianças, a jovens e a adultos em acampamentos cobertos de palha de coqueiro e sobre chão de barro batido.

A Campanha De Pé no Chão acrescenta uma série de possibilidades à escolarização nos Acampamentos: as Praças de Cultura; as bibliotecas populares; os círculos de leitura nos Acampamentos; os Círculos de Cultura Paulo Freire; os programas radiofônicos diários; o teatro; o coral; os jograis; as edições de cartilhas para adultos e de literatura de cordel; a mobilização dos grupos de representação de autos populares, cantos e danças folclóricas.

 
 

 

 
 

Ultrapassando fronteiras

Apresentamos a cronologia dos quatro importantes movimentos de educação popular:

1. O Movimento de Cultura Popular (MCP), criado em maio de 1960, sob o patrocínio da Prefeitura do Recife, como sociedade civil autônoma;

2. A Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler, deflagrada pela Secretaria Municipal de Educação de Natal, em fevereiro de 1961;

3. O Movimento de Educação de Base (MEB), lançado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em convênio com o Governo Federal, em março de 1961; e

4. O Centro Popular de Cultura (CPC), criado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em abril de 1961.

Para conhecer mais sobre os movimentos, leia o texto:

GÓES, Moacyr. Educação Popular, Campanha De Pé No Chão Também Se Aprende A Ler, Paulo Freire & Movimentos Sociais Contemporâneos. Disponível para download aqui.

 
 

 

 
 

Ultrapassando fronteiras

Até meados da década de 40 quando se falava em educação popular, falava-se de ensino primário para crianças das camadas populares: classe media baixa e população pobre. Mais tarde fala-se em educação de adolescentes e adultos e os jovens nunca são citados. A juventude dos anos 60 exigia espaço de participação, através dos movimentos estudantis e culturais. A ditadura militar impôs silêncio como o único caminho e com esta orientação, os ideais foram podados e as lideranças obrigadas a se afastar de qualquer proposta alternativa.

Apresentamos a cronologia de cinco movimentos desse período. Acessando ao link de cada movimento, será possível encontrar vídeos, documentos, fotos, depoimentos além da indicação de livros que fazem referencia a cada um.

1. O MCP - Movimento de Cultura Popular, criado em maio de 1960, sob patrocínio da Prefeitura do Recife. http://forumeja.org.br/mcp;

2. CPC - Centro Popular de Cultura, da UNE. http://forumeja.org.br/cpc;

3. Campanha De pé no chão também se aprende a ler implantada em Natal/RN em fevereiro de 1961. http://forumeja.org.br/depenochao;

4. A CEPLAR – Campanha de Educação Popular da Paraíba. http://forumeja.org.br/ceplar;

5. MEB - Movimento de Educação de Base, lançado pela CNBB, em convenio com o Governo Federal em 1961. http://forumeja.org.br/meb.

 
 

O pensamento e as ideias de Paulo Freire apoiam-se em três eixos: o diálogo na relação educador/educando, marcado pela participação de ambos na problematização da realidade e na busca de explicações para as situações encontradas; o respeito ao saber popular, ir ao contexto de quem seria alfabetizado, pesquisar seu discurso e de lá retirar o vocabulário a ser usado; e a dimensão política da educação, isto é, a ação educativa articula-se com os diversos movimentos que visam à formação do sujeito para sua atuação crítica no contexto social. Dessa forma, compreendem-se as relações entre a educação e a cultura de forma profunda, quando se destaca que não é possível separar o saber da experiência que cada pessoa carrega consigo para a construção de um saber mais, que vá além da mera alfabetização e que conta com a participação dos próprios educandos, sujeitos produtores de cultura, na construção de alternativas educacionais.

Em síntese, Freire propõe uma educação enraizada na realidade social, política e econômica, com uma metodologia voltada ao diálogo que leve o homem a refletir sobre sua situação e si mesmo. Aponta a importância de uma educação que promova nos estudantes a conscientização da realidade para efetivar transformações. Essa educação é fundamentada no diálogo, na liberdade, na democracia e na justiça.

Conheça um pouco mais dos ideais de Paulo Freire.

 
 

Flashes de viagem

Assista ao Vídeo: Paulo Freire Contemporâneo

Parte1 - Download aqui

Parte2 - Download aqui

 
 

O Golpe Militar, ocorrido em 1964, desmobilizou os movimentos sociais, de educação e de cultura presentes nesse período. Paulo Freire, Anísio Teixeira e diversas lideranças ligadas aos movimentos sindicais e sociais foram presos e exilados do País. De 1964 a 1984, o governo altera os planos de toda uma geração que sonhou com mudanças na sociedade brasileira. Esse período foi marcado pelos Atos Institucionais, impostos pelo Governo, cassando os direitos civis, e, paralelamente, pela luta de diversos segmentos da sociedade pela redemocratização do País.

Quais experiências educacionais vão surgir no Brasil nesse processo de redemocratização?

 

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