“Quem mexe com a internet fica bom em quase tudo, quem tem computador nem precisa de estudo, estudar pra quê?" Clipe da banda Pato Fu.
O verso da música “Estudar pra quê?” do grupo Pato Fu ironiza uma compreensão recorrente no senso comum sobre um possível antagonismo nas relações entre escola e internet, as normas linguísticas escolares e a escrita abreviada da net. Se partirmos dessa separação entre universo escolar e cibernético, as expressões e invenções juvenis em espaços exteriores à escola podem ser vistas como inadequadas, irrelevantes ou até contrárias à cultura escolar. Entretanto, como provocar o diálogo entre as expressividades culturais e os modos de participação juvenis com as práticas e tempos da cultura escolar hegemônica? A aproximação com espaços e práticas de sociabilidade dos jovens pode contribuir como referência para o trabalho pedagógico? Quais os desafios do encontro das culturas escolares e juvenis?
Podemos perceber a junção entre as experiências juvenis na escola e na internet em várias comunidades do Orkut, por exemplo, que fazem referência ao universo escolar. Uma comunidade bastante popular, com cerca de 64.000 integrantes é nomeada: “Amo a escola, odeio estudar”.
Se, para muitos de nós, a iniciação e vivência no ciberespaço é uma grande novidade nas formas de nos constituir, nos relacionar, conhecer e aprender, para as gerações que nascem com essa “tecnologia” já em evidência, o tom de inovação parece menos presente. Poderíamos dizer que muitos jovens são verdadeiros nativos digitais: uma geração nascida na era da internet. A fala de um jovem, participante de uma das pesquisas desenvolvidas pelo Observatório da Juventude da UFMG, morador de um bairro de periferia da Região Metropolitana de Belo Horizonte, aponta a importância dos computadores e da rede mundial em seu cotidiano, ao dizer: “estar na net é obrigatório... é igual ter geladeira, fogão! Uma coisa que num tempo atrás era luxo...”. Sua afirmação está em consonância com algumas teorizações sobre uso do termo tecnologia para identificar computadores e a web. Alan Kay, um dos pioneiros da ciência da computação diz: “Tecnologia é tecnologia somente para aqueles nascidos antes de ela ser inventada.”.
Somos desafiados a perceber a tecnologia como elemento constitutivo da cultura juvenil na contemporaneidade. Por isso, não nos basta apenas perceber os usos dos instrumentos tecnológicos, mas sim como os aparatos atuam ativamente na composição dos modos de vida juvenis.
‘Geração X, Y e Z’, ‘geração net’, ‘geração zaping’, ‘nativos digitais’, ‘milênios’, ‘geração globalizada’... Provavelmente, você já tenha ouvido ou lido essas expressões em reportagens, telejornais ou na própria internet. São muitos os conceitos e expressões usados pela mídia que buscam anunciar a condição dos jovens nascidos em diferentes épocas e, principalmente, daqueles nascidos em tempos de Internet.
Alguns dados estatísticos...
Análises estatísticas apontam que a proporção de pessoas com acesso à web tem crescido consideravelmente no Brasil. As PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2005 a 2009 mostram que o acesso à internet teve um aumento de 112% em quatro anos. Segundo os dados, em 2009, 67,9 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade declararam ter usado a internet, o que representa um aumento de 12 milhões (21,5%) em relação a 2008.
É fato que os jovens acessam mais a Internet que outras faixas etárias. É conveniente destacar que o percentual de pessoas que utilizaram a Internet em 2009 foi mais elevado entre aqueles com idade entre 15 a 17 anos (71,1% das pessoas nessa faixa etária); seguidos por aqueles com idade entre 18 e 19 anos (68,7% das pessoas nessa faixa etária). Além disso, cabe enfatizar que a maioria das pessoas (83,2%) apontam que “comunicar com outras pessoas” é o principal motivo para o uso da Internet, segundo a PNAD 2009. Porém, em 2005, a principal razão apontada era educação ou aprendizado, que caiu para o terceiro lugar em 2009, entre os objetivos do uso da rede.
Outras cores
O CETIC – é um Centro de Estudos sobre as tecnologias da Informação e Comunicação, responsável pela coordenação e publicação de pesquisas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil. Na página do CETIC é possível acessar e baixar pesquisas, relatórios e apresentações sobre várias investigações a respeito do uso das tecnologias de informação e comunicação. Destacamos a pesquisa realizada em 2010 nas escolas brasileiras (PDF). |
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Certamente nossa maneira de lidar com o conhecimento se transforma quando estamos imersos em um espaço quase infinito repleto de textos, imagens e vídeos das mais variadas áreas do conhecimento. É interessante percebermos, por exemplo, como os grandes sites de busca da Internet, como o Google, são utilizados para os mais variados interesses e perguntas. Trabalhos escolares, indicação de medicamentos, agenda de programação cultural, receitas, rotas de turismo, profissionais da saúde, entre outros.