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Marcas das culturas juvenis

O vídeo “Todos nós queremos ser jovens” apresenta várias imagens em torno dos jovens e mostra como as juventudes são diversas em função do tempo histórico, dos lugares e contextos sociais. Através de representações, percebemos a construção da juventude, desde a década de 1940 até os dias atuais.


(Clique aqui para ver no Portal EMdiálogo)

Algumas marcas podem evidenciar mais fortemente expressões da vida juvenil. Tatuagens, piercings, pulseiras, bonés, colares, roupas estilizadas, calças largas ou justas, cabelos coloridos, cortes moicanos. E os MP3’s, celulares, fones de ouvido, tablets, note e netbooks, dentre outros aparelhos eletrônicos que, geralmente, estão com eles/as?

Se estivermos considerando a pluralidade de maneiras e símbolos que representam e expressam a juventude, é porque há também variadas formas e lugares de construção de identidades juvenis. Para que compreendamos as diferenças e semelhanças, é preciso investigar as experiências que os sujeitos vivenciam em seu contexto social e os significados que atribuem a elas. Entretanto, há uma multiplicidade de experiências juvenis caracterizadas por novas linguagens, expressões corporais, apropriações da e na cidade, práticas na internet, movimentos artístico-culturais, que, algumas vezes, a escola e nós, professores/as, desconhecemos ou ignoramos. Em outras palavras, as dimensões simbólicas e expressivas da vida dos jovens precisam ser observadas como maneiras de comunicação, sociabilidade e identidade entre eles.

Já perceberam como a música é uma importante norteadora de grupos e estilos juvenis? Hip-hop, rock, samba, pagode, forró, dentre tantos outros ritmos musicais... Marília Spósito, uma importante pesquisadora da juventude no Brasil, reflete sobre a centralidade da cultura na construção das identidades juvenis que possibilita “práticas coletivas e de interesses comuns, sobretudo em torno dos diferentes estilos musicais”. (SPÓSITO, 1999, p.7). Além da música, as danças, o grafite, os esportes, as tecnologias são importantes mediadores da construção de vivências de jovens.

A mídia geralmente identifica esses grupos como tribos (Para uma discussão sobre o uso do termo “tribos urbanas” veja o texto do antropólogo José Guilherme Magnani “Tribos Urbanas: metáfora ou categoria”). Porém aqui preferimos usar outro conceito: denominamos esse amplo universo de vivências como culturas juvenis, ou seja, práticas e espaços que possibilitam a demarcação de identidades entre os jovens, diferenciando-os, enquanto jovens, das crianças e dos adultos e, ainda, expressando adesão a um determinado estilo. Por isso, quando falamos em culturas juvenis, nos referimos a modos de vida específicos e práticas cotidianas dos jovens, que expressam certos significados e valores tanto no âmbito das instituições quanto no âmbito da própria vida cotidiana.

Nesse contexto, muitos rapazes e garotas vão constituindo grupos de estilo e identidade – rappers, grafiteiros, funkeiros, pichadores, punks, sambistas, forrozeiros, entre muitos outros. Nesses grupos, partilham-se sentimentos de pertencimento e afirmação coletiva, com o entrelaçamento das dimensões afetiva, simbólica e estética. Além disso, muitas vezes, o espaço público das cidades possui uma dimensão socializadora para esses jovens que se apropriam das ruas e praças para encontros, interações afetivas ou mesmo como palco para a expressão da cultura que elaboram.

O mundo da cultura aparece como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais, no qual os jovens buscam demarcar sua identidade juvenil. Longe dos olhares dos pais, educadores ou patrões, mas sempre tendo-os como referência, os jovens constituem culturas juvenis que lhes dão uma identidade como jovens. As culturas juvenis, como expressões simbólicas da condição juvenil, se manifestam na diversidade em que esta se constitui, ganhando visibilidade através dos mais diferentes estilos, que têm no corpo e no visual uma das suas marcas distintivas.

Nesse contexto, os grupos culturais ganham relevância. As pesquisas indicam que a adesão a um dos mais variados estilos existentes no meio popular ganha um papel significativo na vida dos jovens. De forma diferenciada, abre a eles a possibilidade de práticas, relações e símbolos por meio dos quais criam espaços próprios, com uma ampliação dos circuitos e redes de trocas, o meio privilegiado pelo qual se introduzem na esfera pública. Para esses jovens, destituídos por experiências sociais e, portanto, impostos a uma identidade subalterna, o grupo cultural é um dos poucos espaços de construção de uma autoestima e afirmação enquanto sujeitos, possibilitando-lhes identidades positivas. Ao mesmo tempo, é preciso enfatizar que as práticas culturais juvenis não são homogêneas e se orientam conforme os objetivos que as coletividades juvenis são capazes de processar, num contexto de múltiplas influências externas e interesses produzidos no interior de cada agrupamento específico. Em torno do mesmo estilo cultural, podem ocorrer práticas de delinquência, intolerância e agressividade, assim como outras, orientadas para a fruição saudável do tempo livre (lazer e entretenimento), ou ainda para a mobilização cidadã em torno da realização de ações solidárias.

Estudos da sociologia da juventude no Brasil também mostram que os jovens se apropriam das ruas, combinando encontros, circulando em grupos, conversando (SPOSITO, 1993); ao mesmo tempo, o espaço público é local de visibilidade, servindo como palco para que eventualmente apresentem suas danças e músicas.

Com efeito, designadamente entre jovens das camadas médias e inferiores; a rua fornece formas simbólicas de afirmação da cultura juvenil. (...) A rua é encarada como espaço mais “livre”, tanto em termos comerciais, tanto em termos de controle social (PAIS, 2003, p. 117)

Dessa forma, os jovens colocam na cena pública marcas identitárias e saberes sobre a cidade, às vezes, considerados marginais ou ilegais. Ao mesmo tempo, as (re)significações nos usos dos espaços e equipamentos públicos configuram relações de proximidade e de distância entre os sujeitos, possibilitando competições entre grupos sociais que podem levar a novas segregações do espaço urbano.

 
  Outras cores

Você já ouviu falar dos fanzines? Fanzines são publicações que podem englobar uma diversidade de temas. Alguns grupos juvenis usam os fanzines para publicar temas e assuntos diversos: música, histórias em quadrinhos, poesias, programação cultural.

No Portal Emdiálogo, você pode acessar uma série de fanzines produzidos pelo Observatório da Juventude da UFMG intitulados “Juventude (in/em) formação”. Eles propõem uma reflexão sobre temas vivenciados pela juventude: desigualdade social, raça e etnia, cultura, projetos de vida.

Veja também a interessante matéria "Projeto de estudante da UFSCar ensina química através de mangás" sobre o projeto que usa fanzines com histórias em quadrinhos para ensinar química com a linguagem dos mangás.

 
 
 
  Observando formas e texturas

Convidamos você a realizar um exercício de observação. A partir do que problematizamos até aqui, que tal buscar perceber as marcas/cores/nuances das culturas juvenis em seu contexto de vivências? Na sua cidade e na sua escola, você consegue identificar espaços e tempos em que os jovens se apropriam para encontros, dançar, curtir, ‘trocar uma ideia’, ‘fazer um som’?