A escola como construção sociocultural

Encerramos aqui nosso “passeio” histórico, para fazer algumas reflexões. Não foi por acaso que escolhemos o período que se seguiu à Proclamação da República no Brasil para essa “visita”. A criação dos Grupos Escolares em nosso país representou a consolidação de uma determinada cultura escolar que persiste até os dias atuais na organização do ensino básico: seriação, homogeneização dos conteúdos e das atividades, fragmentação do tempo, divisão do trabalho docente, demarcação e separação clara dos espaços e tempos escolares em relação aos espaços e tempos da vida da comunidade.

Como vimos, esse tipo de organização foi pensado para facilitar, em termos de custos, de organização e de controle, o atendimento a grandes contingentes de população infantil – e certamente esse é um dos motivos pelos quais ele continua tão forte nos dias atuais. Entretanto, seus limites e problemas têm sido largamente debatidos. Trata-se de um formato escolar que não favorece o respeito aos ritmos e aos estilos individuais de aprendizagem e à diversidade sociocultural dos alunos; que não estimula as trocas entre escola e comunidade, fazendo da primeira um mundo à parte e, muitas vezes, sem sentido na vida dos estudantes; que tem gerado muita exclusão, na forma de abandono, evasão, repetência e fracasso escolar. Passa-se, então, a questionar formas de renovar esse modelo - seja no que tange a aspectos mais específicos, como a integração entre as disciplinas ou a relação com a comunidade, seja no que diz respeito a suas estruturas fundamentais de organização do espaço, do tempo, do currículo, dos sujeitos envolvidos.

Afinal, se a escola, conforme dissemos no início dessa Unidade, é uma construção sociocultural, isso quer dizer que, da mesma forma como o modelo da “escola graduada” foi considerado um avanço no início da República brasileira, outros modos de organização escolar podem ser propostos e mostrar-se mais adequados para contextos diferentes. Na verdade, isso efetivamente tem acontecido, embora em proporção pequena, se considerarmos o número de casos em que predomina o modelo escolar tradicional. No Módulo II, discutimos diversos movimentos que, ao longo da história da educação no Brasil, tentaram redesenhar o formato da escola, a partir de diferentes concepções de educação e de educação integral. E, já que fizemos um “passeio” pelo passado e conhecemos a gênese do modelo tradicional de organização do sistema escolar em nosso país, vale a pena, agora, “visitar” algumas realidades contemporâneas, com as seguintes perguntas em mente:

  • Em que cenários socioculturais vivemos hoje?
  • Que tipos de escola podem ser organizados e contribuir para a formação das crianças e jovens nesses contextos?
  • O que significa “educar integralmente” nesses cenários?

Flashes de viagem

Com os links a seguir, pretendemos possibilitar um “passeio” por escolas contemporâneas que, a fim de dialogar melhor com seus contextos, organizaram-se em diferentes formatos e modos de funcionamento. Visite algumas delas e veja como são concebidos, propostos e vividos os espaços escolares, os tempos, as atividades educativas, os conteúdos curriculares, os papéis dos sujeitos, a relação com o entorno... São diferentes modos de “ser escola”, de fazer educação.

- Escola da Ponte, Portugal
>> Artigo da Wikipedia
>> Página do Facebook
>> Entrevista: "Escola dos sonhos existe há 25 anos em Portugal"
>> Vídeo

- Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, São Paulo
Site: http://www.amorimlima.org.br
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=QNkx0gpKYKo

- Escolas mantidas pelo Instituto Lumiar, com destaque para a EMEIR Antônio José Ramos, em Santo Antônio do Pinhal, São Paulo
Sites: http://www.lumiar.org/ e http://www.santoantoniodopinhal.sp.gov.br
Vídeos: http://www.youtube.com/watch?v=0gkd7cHxKOk
http://www.youtube.com/watch?v=dNAT0ZSrx2M
http://www.youtube.com/watch?v=kJsisjIdSZI

- Escolas Famílias Agrícolas, Brasil
Site: http://www.unefab.org.br/2005/principal.asp
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=7qEt_4lE_M8&feature=related

- Escola Indígena Baniwa-Coripaco-Pamáali (EIBC-Pamáali), Amazonas
Blog: http://pamaali.wordpress.com/
Notícia: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2803