O Ver
É a etapa inicial do processo de conhecimento e será desenvolvido nos diferentes módulos a partir das atividades de observação.
Mas o que é Observar? E como Observar? Observar é olhar atentamente, examinar com minúcia, espreitar, espiar, estudar um determinado objeto, fenômeno ou cena/cenário. O ato de observar não é um ato neutro, ingênuo, totalmente subjetivo ou intuitivo. O ato de observar é impregnado de intermediações de várias ordens. Quando olhamos um objeto, uma cena ou fenômeno, imediatamente acionamos informações (conhecimentos teóricos ou práticos, sentimentos e sensações) que permitem nos familiarizar com o observado para conhecê-lo e compreendê-lo. Pode até parecer fácil, mas o ato de observar é bem complexo. Observar é contar, descrever os fatos cotidianos de um jeito que as pessoas compreendam onde, como e por que aquilo está acontecendo. Vocês já ouviram uma narrativa de jogo pelo rádio? Pois é, um bom narrador não fica preocupado só com o gol, ele tenta explicar o que fez com que se chegasse ao gol. Então, todas as cenas são importantes, pois elas têm um encadeamento, uma sequência que leva um jogador a fazer o gol. Mas, se o narrador é bom, a gente percebe que o gol foi feito por todos os que participaram da cena. |
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Então, é mais ou menos assim. Você precisa contar ou descrever de tal forma que quem não esteve naquele lugar, não presenciou a cena, consiga entender tudo, até mesmo o significado do que aconteceu.
Mas, para contar bem uma cena, um fato, você precisa tomar cuidado. Os nossos olhos tendem a enxergar o que nós queremos ver e não aquilo que é para ser visto. Ou seja, nosso olhar tem filtros, que são nossos valores, nosso jeito de encarar o mundo, nosso modo de pensar... Isso se chama refração.
Dessa forma, para enxergar a realidade da escola ou dos nossos jovens alunos ou mesmo os significados que eles atribuem ao cotidiano escolar, precisamos primeiro identificar os possíveis filtros e compreender como estes interferem no nosso olhar e, após esta primeira mirada, voltar a olhar novamente, lançar um novo olhar, buscando:
a)Desnaturalizar o cotidiano escolar, suas vivências neste espaço tão familiar e por isso mesmo tão naturalizado, e assim:
b)Estranhar o que nos é tão familiar, ou seja, colocar em suspenso seus pontos de vistas e crenças sobre a escola, sobre a condição docente e sobre os jovens alunos, para depois:
c)Enxergar a escola, seu entorno e os jovens alunos, com os olhos de quem chega pela primeira vez, como um “estrangeiro”, buscando compreender os/as jovens estudantes, suas práticas culturais, seus hábitos, valores, visões de mundo etc.
Mas somente o olhar não será suficiente para seu processo de construção de conhecimento sobre a escola, o ensino médio e os jovens alunos. Você precisará se valer, também, de um outro recurso de obtenção dos dados: o OUVIR.
Assim como acontece com o olhar, também o ouvir possui uma significação específica para um pesquisador. O ouvir complementa o olhar, na medida em que lhe permite voltar à realidade escolar e tentar perceber se o que observou, se o que interpretou durante a observação, é ou não compartilhado pelos outros sujeitos da escola. O ouvir permite confrontar seu ponto de vista com o dos outros sujeitos e construir uma leitura ou interpretação mais complexa das cenas ou situações observadas. Por esse procedimento, você terá condições de compreender as relações sociais dentro da sua escola, do seu entorno, as transformações pelas quais passam a escola, a docência e a condição dos jovens alunos que ali frequentam.
O objetivo principal do ouvir é obter as “explicações” dadas pelos próprios sujeitos pesquisados e membros da comunidade pesquisada, no caso, a escola. Tais explicações “nativas” podem ser obtidas por meio de entrevistas e questionários, proporcionando um ouvir todo especial. Mas, para isso, é preciso saber ouvir! Ou seja, para ouvir bem, � necess�rio:
No quadro abaixo, colocamos algumas dicas importantes para esta sua “escuta”:
1.Durante o curso, nos próximos módulos, você vai realizar atividades, tais como entrevistas e questionários, que possibilitarão pôr em prática, exercitar, a capacidade de ouvir. 2.Além de realizar as entrevistas, você poderá solicitar que os jovens alunos, professores e/ou funcionários se entrevistem livremente. Você poderá também ouvir funcionários da escola e familiares da escola ou pessoas da comunidade. Aposto que todos eles/as têm muito a dizer e podemos nos surpreender com o que vamos escutar. 3.Nas atividades do ouvir, podem ser utilizados recursos audiovisuais (gravação, filmagem) disponíveis, pois esses ampliam a capacidade de “escuta” e auxiliam no registro das falas e na compreensão dos contextos observados. |
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A Terceira etapa: O Registrar
Propomos que o registro, nesta formação, seja feito em duas etapas ou de dois modos:
a)Registrar “estando lá”: ou seja, anotando, descrevendo no caderno de campo, (ou fotografando, filmando, gravando em áudio ou desenhando) o que observa ou no momento em que aplica questionários ou realiza entrevistas. Nessa primeira escrita, com uma forma mais direta (às vezes, rabiscos), anotamos as ideias que vêm à mente, em “estado bruto”. Importante: nessa etapa podemos utilizar todos os recursos e linguagens disponíveis e acessíveis para registrar o que observamos.
b)Registro final: registro mais elaborado, já mais distanciado do trabalho empírico, revendo as anotações, os questionários, as entrevistas, as fotos, as filmagens, enfim, tudo que se “colheu” durante a formação e pesquisa e elaborar um portfólio. Esse registro final carrega toda a gama de reflexões, leituras e debates ocorridos durante o curso de formação que possibilitará construir uma interpretação ao mesmo tempo pessoal e coletiva das cenas e cenários observados.
Assim, reforçamos que é importante não somente observar e ouvir, mas, também, registrar o que se observou e o que se ouviu! O Registro é uma continuidade do encontro entre pesquisador e pesquisado e, por conseguinte, uma continuidade do Olhar e do Ouvir. O registro é material básico para a análise posterior e a sequência do trabalho de observação (olhar e ouvir)
Arremate (Gloss�rio)
Etnocentrismo Visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados
e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos,
nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como
dificuldade de pensarmos a diferença;
no plano afetivo, como sentimentos de estranheza,
medo, hostilidade etc. Alteridade Capacidade de conviver com o diferente, de se proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que eu reconheço “o outro” também como sujeito de iguais direitos. |
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