Educação e a dimensão étnico-racial
Discutir a dimensão étnico-racial nas práticas educativas implica pensar o pertencimento racial dos sujeitos e as diferenças e as desigualdades produzidas por esse pertencimento, bem como avaliar como nossas práticas educativas têm contribuído para romper com essas relações desiguais. Apesar de reconhecer que existe uma ampla diversidade étnico-racial em nossa sociedade e que essa temática é muito abrangente e complexa, tanto do ponto de vista social quanto do teórico, o recorte que faremos para a discussão dessa dimensão será a população negra.
Antes de prosseguirmos, é necessário explicitarmos a nossa compreensão e o uso do conceito de raça. Segundo Telles (2003), raça é uma construção social, histórica e política, com pouca ou nenhuma base biológica. Entretanto, esse conceito é importante, sobretudo no Brasil, porque continuamos a classificar e a tratar o outro segundo critérios raciais, os quais são socialmente aceitos.
Gomes (2009) acrescenta que o uso do termo raça possibilita o fortalecimento de distinções sociais, as quais não se enquadram em nenhum critério biológico, mas mesmo assim continuam a ser imensamente importantes nas interações sociais. Podemos perceber biológica e cientificamente que as raças não existem. Isso significa compreender que, do ponto de vista genético, negros, brancos índios e amarelos são iguais, porém, no contexto da cultura, da política e nas relações sociais, a diferença entre ambos foi construída como uma forma de classificação do humano. No entanto, a autora nos explica que o conceito de “raça” tem sido utilizado a partir de uma ressignificação, sendo compreendido como uma construção social, histórica e política que nos permite pensar os lugares ocupados por negros e brancos em nossa sociedade.
Partimos do pressuposto que a dimensão étnico-racial ocupa um lugar de destaque nas trajetórias e nas identidades dos sujeitos. Ser criança e negra, ser jovem e negro (a) significa identidades que as visões, os desejos e as trajetórias desses sujeitos articulam-se não somente com a dimensão geracional e de gênero, mas também de raça (Gomes, 2005). Pensar essa dimensão implica compreender a construção do olhar de um determinado grupo étnico-racial sobre si mesmo, a partir da relação com o outro.
Nessa perspectiva, compreendemos a identidade negra, relacionada às representações sobre o negro e o branco, vivenciadas e aprendidas na dimensão cultural, num processo que envolve desde as primeiras relações estabelecidas no grupo familiar às relações estabelecidas em outros âmbitos sociais.
Devemos entender, assim, que a construção da identidade negra se dá num processo, gradual e contínuo, construído pelo (a) negro (a) nos vários espaços sociais nos quais circulam. No entanto, como nos mostra Gomes (171:2003b), “construir uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina ao negro, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo, é um desafio enfrentado pelos negros brasileiros”.
E é esse aspecto que nos interessa. Pensando nas nossas práticas educativas, será que estamos atentos a essa questão?
Podemos notar que, nas ações e nas práticas pedagógicas, muitas vezes, há manifestações do racismo, tanto por parte dos educadores (as) quanto por parte dos (as) alunos (as), mesmo que de maneira involuntária. Assim, compreendemos que a introdução da discussão sobre a questão racial nos processos educativos pode desencadear uma série de mudanças na vida, na mentalidade e no comportamento das crianças e dos (as) jovens, bem como dos (as) próprios (as) educadores (as).
É o que podemos observar no filme “Vista minha Pele”. O vídeo é um material que nos possibilita problematizar os estereótipos, as práticas discriminatórias e preconceituosas existentes em nossa sociedade.
Flashes de viagem - Vídeo "Vista minha Pele" O filme baseia-se em uma história invertida, sendo que os negros compõem a classe dominante, enquanto brancos figuram como ex-escravos. Na história, Maria é uma menina branca pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa de estudos que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira na instituição. A maioria de seus colegas a hostilizam, por sua cor e por sua condição social. Maria quer ser “Miss Festa Junina” da escola, mas, para isso, precisará enfrentar desde à resistência de seus pais à dificuldade em vender os bilhetes para seus colegas que são, em sua maioria, brancos e pobres. Parte 1: Parte 2: Parte 3: |
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